Haverá folia? Se nosso Carnaval vingar, teremos sérias consequências
"O mundo é cruel e devemos evitar catástrofes maiores, resistindo às tentações. Sem querer dramatizar, trata-se da constante luta entre o Bem e o Mal". Leia o artigo de Arthur Carvalho
Quando a gripe espanhola foi-se, misteriosa e espontaneamente, após ceifar cerca de cinquenta milhões de vidas no mundo inteiro (nunca se sabe o número exato) sem vacinar ninguém (à época, não tinha vacina), o carioca superlotou as ruas, ladeiras e avenidas da cidade com troças, clubes, batucadas, fantasias e tudo quanto foi agremiação, e, extravasando os sentimentos reprimidos durante a longa e tenebrosa pandemia, brincou o mais animado e frenético Carnaval de todos os tempos.
Nosso Carnaval se aproxima e os governantes federais, estaduais e municipais estão com uma mina no colo para desarmar. Um abacaxi dos maiores. Vão conseguir descascá-lo? É difícil! A população não aguenta mais ficar em confinamento. A vacinação demorou. Isto prejudicou o combate ao vírus. A baixa vacinação e a precoce flexibilização de países da Europa, com a atual abertura de bares, boates, restaurantes e comércio, agravou a situação e já se fala em quarta onda. Se ela chegou por lá, atingirá o Brasil, segundo médicos e cientistas - e atinge exatamente na chegada do natal, do réveillon e do Carnaval.
O Carnaval reúne multidões. Falar em Carnaval é falar em prévias momescas que aglomeram os foliões em recintos fechados, com ou sem refrigeração, em ensaios de blocos, compra e venda de fantasia e em ensaio de bandas e orquestras. Os governantes sabem que o problema é complexo e de difícil solução, porque, além do imbróglio sanitário que, se não resolvido a contento, poderá causar perigosa e incontrolável recidiva de hospitais superlotados de doentes contaminados com a COVID-19 - e a vaca vai pro brejo!
Além das aguardadas e naturais pressões dos foliões, os administradores têm de enfrentar o formidável e poderoso capital das multinacionais das bebidas, de refrigerantes e toda sorte de empresa de propaganda. Também terão de renunciar as gordas verbas que reforçam e abarrotam os cofres municipais, estaduais e federais - antes e depois da folia. Sem falar no turismo interno e internacional. Como se não bastasse, Angela Merkel já declarou que a situação da Alemanha é dramática - o mesmo acontecendo com a Áustria, que, por ironia, é tida como o país da cultura universal. A África do Sul e outros países africanos começaram a demonstrar o perigo que é não ter se vacinado nos números ideais estabelecidos pela OMS. Se nosso Carnaval vingar, teremos sérias consequências. O mundo é cruel e devemos evitar catástrofes maiores, resistindo às tentações. Sem querer dramatizar, trata-se da constante luta entre o Bem e o Mal. Seja o que Deus quiser!
Arthur Carvalho, da Academia Olindense de Letras
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC