O risco chamado Jair Bolsonaro
"O alto risco Brasil tem nome e endereço: chama-se Jair Bolsonaro com seu governo desmantelado, incompetente e demolidor". Leia o artigo de Sérgio C. Buarque
Depois do desastre econômico e social de 2020, auge da pandemia, a economia deve crescer cerca de 4,1% neste ano, mas termina com dois trimestres de retração do PIB, caracterizando uma recessão técnica. Recessão vem acompanhada da aceleração da inflação, que encerra o ano com emblemáticos dois dígitos, podendo levar a um quadro delicado de estagflação, o pior dos mundos para os brasileiros e um grande dilema para os formuladores de política econômica.
A inflação tem uma causa externa decorrente da pandemia - elevação dos preços das commodities e desorganização da cadeia global de suprimento - mas também determinantes internos: a crise hídrica, provocando elevação dos preços da energia, e a desvalorização cambial que decorre, principalmente, das incertezas em relação ao desastroso governo de Jair Bolsonaro.
Entretanto, para 2022 existem motivos de otimismo. A recuperação da cadeia de suprimento deve reduzir a pressão inflacionária mundial, o que já é perceptível na queda de 18,7% dos preços internacionais do petróleo. E a generosidade da natureza, com chuvas abundantes no sul e sudeste, aumentando os níveis dos reservatórios, suspende, por enquanto, o risco de racionamento e diminui a geração térmica que eleva as tarifas de energia.
Além disso, o Brasil vai terminar o ano com 70% da população totalmente vacinada, o que permitirá o funcionamento normal da economia, a não ser que a nova variante do Covid-19 seja resistente às vacinas, o que parece pouco provável. Os sinais de otimismo terminam quando se analisa o quadro político do Brasil e, particularmente, o desempenho do presidente da República.
As estimativas de crescimento para o próximo ano não passam de um porcento, mesmo com a expectativa de uma taxa de inflação declinante (o relatório Focus projeta crescimento de 0,51% e inflação de 5%), que será acompanhada da elevação da taxa Selic. O alto risco Brasil tem nome e endereço: chama-se Jair Bolsonaro com seu governo desmantelado, incompetente e demolidor que provoca um clima de incerteza e alta desconfiança dos agentes econômicos e dos investidores externo.
O risco será agravado, em 2022, pelas eleições e por uma campanha eleitoral violenta e polarizada que, além do mais, despertará temores de tentativas de ruptura institucional, na medida em que se evidência uma provável derrota de Bolsonaro. Desastre político e econômico anunciado.
Sérgio C. Buarque, economista
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