A neo-favelização é um problema grave e de todos
"São milhares de pernambucanos que vivem nos chamados aglomerados subnormais, em habitações com pouca estrutura e tendo que lidar com baixos níveis de renda". Leia o artigo de Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Disse Sua Santidade, o Papa Francisco, que a esmola é ocasional, mas a partilha é duradoura. A primeira gratifica quem a dá, porém humilha quem a recebe; a segunda reforça a solidariedade e opera justiça.
Faço a citação para adentrar o tema da favelização dos centros urbanos no Brasil, que não é qualquer novidade. A pandemia ainda sob enfrentamento, com suas variantes que parecem intermináveis, ressoa aos olhos dos leigos como tendo agravado consideravelmente esse quadro.
Tome-se o exemplo da Rua do Imperador, no centro recifense. Ali entre o Tribunal de Justiça, o Palácio do Campo das Princesas, o Gabinete Português de Leitura, entre outras edificações históricas. O cenário que se constata é de completa degradação. Não tem como fingir que o problema não acontece ou que é de somenos gravidade.
Campanhas de coleta de agasalhos ou de comida são obviamente úteis, e precisam acontecer, porém, não deixam de ser paliativos. Poder Público e iniciativa privada também têm - e como têm - o que fazer. Do jeito que está é que não dá para continuar.
São milhares de pernambucanos que vivem nos chamados aglomerados subnormais, em habitações com pouca estrutura e tendo que lidar com baixos níveis de renda, a exemplo de favelas ou invasões, apenas na Região Metropolitana do Recife, que somente perde as capitais São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belém (PA) e Salvador(BA).
A neo-favelização - termo cuja cientificidade não posso evidentemente afiançar - projeta-se no tipo de realidade que exsurge de centros urbanos. É um problema grave e de todos, não só dos gestores públicos, uma responsabilidade socializada.
Neste fecho de um ano tão duro, há que se pensar coletivamente em soluções que transponham as fronteiras do assistencialismo eventual e devolvam as cidades aos seus habitantes de modo amplo, dando-se enfim sentido ao postulado constitucional da dignidade, por ora peça de ficção.
Encerro citando Brecht: "Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram". Vamos enfim dar ao período natalino o seu real significado.
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado