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De novo, o Brasil às tontas

"2022 poderia (pode), nesta longa e infinda travessia, trazer uma alternativa política que ao menos garanta estabilidade institucional, requisito essencial para início de recuperação sustentável da economia". Leia o artigo de Roberto Alves e Tarcisio Patricio

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Roberto Alves e Tarcisio Patricio

Publicado em 04/01/2022 às 6:15
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Roberto Mangabeira Unger publicou - em 14/01/1979 - "O Brasil às tontas", em caderno especial da Folha de São Paulo. Viríamos a amargar a "Crise da dívida externa" e a recessão de 1981-83, a economia saindo dos trilhos do crescimento. Derrotar a superinflação, criar a moeda Real (agora, já longeva - dado o padrão brasileiro) e outras importantes instituições econômicas e sociais: bons momentos de inspiração nacional, desde então. Mas, o esperado crescimento não veio. Tampouco antecipávamos o dissabor de ver o PIB recuar, em 2011-2020, quase 7% (!). Trágica redução da renda per capita do Brasil na década. E notar que, desde 2011, somos um país às tontas. Figura a soar, hoje, mais apropriada.

De fato, a economia brasileira segue a passo medíocre, há mais de dez anos, o que inclui severa recessão (2015-2016) e três anos sucessivos (2016-2018) de parco crescimento anual (1,0%). A pandemia não é explicação para o estágio atual, pois se abate sobre e piora uma economia já muito frágil. O PIB recua 4,1% em 2020 - em relação ao já combalido PIB do ano anterior. Incômodas, as seguidas frustrações de, a cada um dos últimos anos, o crescimento observado ser sempre inferior ao projetado. Para 2021, depois de estimativas acima de 7%, o último número divulgado pelo Banco Central (03/01/22) aponta PIB crescendo abaixo de 5% (4,5%), o que faz o produto se manter no patamar de 2019. Agora, mais desconforto: o BC já prevê, para 2022, modesto crescimento de menos de 0,5%.

Essa piora se deve, principalmente, a possível agravamento da já delicada situação fiscal do setor público. O final de 2021 trouxe a tal "PEC do Calote" -, algo que pode agravar a já significativa vulnerabilidade da economia nacional. Ademais, uma inflação de dois dígitos. E a taxa básica de juros (SELIC) a 9,25 % a.a., com viés de alta. Cresce a dificuldade para o investimento - prolongando-se a insuficiência do indispensável. Questões estruturais há tempos pedem avanços institucionais e aproveitamento de nosso potencial de crescimento, com olhos não só para o imediato; sim, contemplando-se o longo prazo. Infelizmente, o país - nestes três últimos anos - acelerou o passo na direção contrária. Alto o custo social dos descaminhos da política, e da má governança - desemprego, redução da renda pessoal, desagregação. 2022 poderia (pode), nesta longa e infinda travessia, trazer uma alternativa política que ao menos garanta estabilidade institucional, requisito essencial para início de recuperação sustentável da economia. Um baita desafio!

Roberto Alves e Tarcisio Patricio, professores da UFPE

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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