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A vaia que Donald Trump levou

"O que se pode esperar dos que são eleitos por campanhas lastreadas em mentiras?". Leia o artigo de Sérgio Gondim

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 07/01/2022 às 6:17
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É de se imaginar que o papel de um governo seja governar. É tudo que se quer. Que administre, tome providências, tenha pulso firme ou se solidarize quando preciso for. Que analise os problemas, procure as melhores soluções e, sem poder entender de tudo, escolha os especialistas e assessores para tratar dos assuntos mais específicos. Não se imagina que possa existir governo eleito, opinando de forma inconsequente sobre o que não entende e agindo aleatoriamente contra os interesses do seu país.

Nem em pesadelo se imaginaria um presidente opinando contra vacinas a troco de nada, só para criar polêmica e desviar atenção, mesmo às custas de doenças e mortes. Também não se imaginava que teria tantos seguidores estranhos, capazes de explodir em vaias quando, em ato falho, o agora ex-presidente americano confessou que sua contrapropaganda era enganosa, conversa da boca para fora. Se garantiu na surdina, tomou todas e o reforço.

Está difícil entender o mundo: na hora que merecia aplausos, foi vaiado.

Pensando bem, ele já havia dado sinais de que tinha convicções falsas: depois de anunciar para o mundo "temos uma arma", no início da pandemia, não tomou a tal arma quando adoeceu, pois não é bobo. Recorreu ao que existia de mais avançado na ciência médica, sendo medicado com anticorpos monoclonais de eficácia comprovada. Deveria ter estimulado as pesquisas, a maior produção e distribuição, para oferecer ao povo o mesmo que recebeu. Preferiu insistir recomendando tratamento com brioches, para os outros.

A luta pelo poder sempre esteve envolvida em muita sujeira, mas imaginava-se que, com a evolução da sociedade, o resultado das urnas seria definido pela sinceridade e a verdade. Observa-se o contrário. Prevalece a estratégia da mentira com o auxílio da internet que a dissemina mais do que a pior das variantes, para uma população não vacinada contra os seus males.

O que se pode esperar dos que são eleitos por campanhas lastreadas em mentiras?

Imaginava-se também que, na democracia, a opinião pública teria forças para impor limites aos eventuais desvarios dos escolhidos, sem se dar conta de que decepções passadas causariam tanta apatia.

Pensava-se que, ao governo, caberia garantir a ordem, a transparência para gastos públicos, o respeito às instituições e à democracia. Nunca conclamar para o golpe, o ódio, para bradar contra o resultado das urnas, estimulando a invasão do capitólio e o desrespeito à constituição em caso de derrota.

Essas foram notícias que nos chegaram dos Estados Unidos da América, mas fatos assim bem que podem acontecer em qualquer lugar.

É bom prestar atenção, para vaiar no momento certo.

Sérgio Gondim, médico

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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