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A Escola Parque do Recife deixou lições

"A notícia de fechamento da EPR este ano não me traz o sentimento de tristeza, mas a certeza de que a semente plantada já rendeu belíssimos frutos". Leia o artigo de João Paulo Rodrigues

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João Paulo Rodrigues

Publicado em 12/01/2022 às 6:26
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Há muito tento explicar para os meus filhos e esposa o que foi estudar na Escola Parque do Recife - EPR. Com inegável saudosismo, confesso, falo das lições oferecidas pelas professoras Myrtha, Malba, Flávia, Zita, Vicentina, Guila, Valéria, dentre tantos outros nomes marcantes e que deixo de citar aqui pela natural limitação de espaço.

Não foram raras as vezes em que saí de carro e levei a minha família para conhecer o local onde funcionava a EPR, no intuito de projetar materialmente como eram as aulas, os esportes, os recreios, as brincadeiras, as relações e como era prazeroso cada um dos dias ali.

Ao longo dos anos, em determinados momentos ouvi algumas pessoas se referindo a EPR ora como uma escola da esquerda, ora de liberalismo excessivo para com os alunos. Nunca vi ou tampouco senti qualquer dessas pechas.

Recordo, sim, de uma uma escola com educação de ponta, cercada pelos melhores e mais conhecidos professores do Estado e com altíssima aprovação no vestibular; recordo da cultura forjada a partir do respeito, pela qual cada aluno era individualmente conhecido, chamado pelo nome e recebia cuidados absolutamente personalizados; recordo do carinho e dos conselhos que carrego e uso até hoje.

O melhor, claro, foi descobrir e aprender a admirar e defender as minorias, a construir amizades verdadeiras e a desenvolver o pensamento abstrato e construtivo.

Pertenço a um núcleo de amigos que carregam na nossa relação o DNA da EPR, marca esta que revela quem somos e o que desejamos do mundo em qualquer lugar em que estejamos.

Queremos um mundo de igualdade, de respeito às diferenças, de solidariedade e de valorização ao processo de aprendizagem.

A notícia de fechamento da EPR este ano não me traz o sentimento de tristeza, mas a certeza de que a semente plantada já rendeu belíssimos frutos.

Enquanto o mundo fala de uma reforma na educação, do surgimento de novas competências, a EPR já representava esse novo olhar. Foi vanguardista e contribuiu para chegarmos onde chegamos. Para os alunos da EPR, essa nova visão sobre a educação é tão natural que nem parece uma novidade.

A EPR não foi um espaço físico, mas uma filosofia educacional e, como tal, deixa um legado maravilhoso.

Para quem hoje vive a polarização de pensamentos e a intolerância ao contraditório, saiba que a doutrina EPR era um ponto de encontro e de construção de pontes, não de desavenças ou antagonismos destrutivos.

Sentiremos saudades, mas sentiremos ainda mais gratidão. Obrigado aos honrados fundadores, educadores e colaboradores que fizeram a EPR.

João Paulo Rodrigues, advogado e ex-aluno da EPR

 

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