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Escola Parque do Recife: a marca singular de uma das mais ousadas experiências educacionais do Brasil

"De lá, saíram alunos brilhantes e talentosos que ocupam espaço no mundo privado e público, contribuindo para uma sociedade mais democrática, solidária e humana". Leia o artigo de Mendonça Filho

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MENDONÇA FILHO

Publicado em 15/01/2022 às 6:29
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Desde muito cedo aprendi o valor da educação como fonte transformadora da realidade social de um povo. Sou de uma família de origem simples, vinda de Belo Jardim. Meus avós paternos e maternos mal concluíram o ensino fundamental. Meus pais, com muito esforço, foram a primeira geração da família que conquistou a formação superior. Na minha casa, meu pai valorizou muito a educação de todos os seis filhos, mas quem liderou as principais decisões com relação a nossa formação foi a minha mãe Fana, formada em filosofia pela FAFIRE. Uma mulher sem igual, muito inteligente e que sempre esteve à frente do seu tempo. Nesse contexto, ela nos matriculou na Escola Parque, eu então na 5ª série do fundamental.

A Escola Parque foi fundada por três educadoras obstinadas e muito talentosas Myrtha, Malba e Dosa. Dosa foi a motivadora do nosso ingresso na EPR. Também de origem belo-jardinense, filha de uma grande amiga dos meus pais, Dona Ester, uma mulher muito inteligente, preocupada com a educação e que esteve presente no meu nascimento e de outros três irmãos.

Tudo na Escola Parque era diferente das escolas tradicionais. Desde a infraestrutura física; passando pelo corpo docente formado por grandes professores: Nonato, Batista, Terto, Robson, Cláudio e tantos outros até o relacionamento com colaboradores. Formávamos uma verdadeira família. O DNA principal da instituição era de um espaço aberto para o debate de ideias, respeito ao contraditório, simplicidade, democracia e espírito crítico. O que hoje está cada vez mais presente na educação global, como habilidades socioemocionais, já era uma marca presente na EPR.

A geração de alunos da escola aprendeu desde cedo a respeitar as pessoas como elas são, e não pelo que elas têm. De lá, saíram alunos brilhantes e talentosos que ocupam espaço no mundo privado e público, contribuindo para uma sociedade mais democrática, solidária e humana. Nos últimos dias, recebemos com tristeza a notícia do encerramento das atividades da EPR. E como ex-aluno manifesto meu profundo amor, respeito e eterna saudade dos belos anos que estudei na EPR, sentimento esse que divido com meus irmãos. À Myrtha, Malba e Dosa (in memoriam), educadoras notáveis, minha gratidão pela visão transformadora e dedicação notável à educação. Compartilho com meus irmãos, colegas, amigos ex-alunos, funcionários, professores, a certeza da marca singular de uma das mais ousadas experiências educacionais do Brasil. Viva a Escola Parque do Recife.

Mendonça Filho, ex-ministro da Educação e consultor da Fundação Lemann

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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