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Lula agora pede que o eleitor esqueça o passado dele e do PT e lance olhos para o futuro

"O que eu vejo é um futuro com mais crime organizado e menos democracia caso o PT vença". Leia o artigo de José Maria Nóbrega

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JOSÉ MARIA NÓBREGA

Publicado em 18/01/2022 às 6:00
Análise
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O crime organizado pode ser definido como um grupo estruturado, com atuação mínima de três pessoas, que age contra uma ordem legal, pratica lavagem de dinheiro, corrompe agentes do Estado e tem atividades se estendendo para além das fronteiras nacionais.

Democracia é um regime político que promove eleições livres e limpas para os poderes Executivo e Legislativo, no qual há garantias institucionais dos direitos civis e políticos, que o exercício do poder é limitado pelas instituições (checks and balances) e no qual as forças de segurança estão sob controle civil.

O crime organizado limita a democracia, corrompendo-a. Quando o crime organizado chega a instâncias de poder, a democracia tem dificuldades de se consolidar, ou seja, de se solidificar como regime político (apesar de manter o jogo eleitoral).

Para o preenchimento dos requisitos democráticos, é necessário o controle do crime organizado. Este pode chegar a patamares muito elevados, corrompendo o sistema de freios e contrapesos característicos das repúblicas democráticas contemporâneas.

A Lava-Jato, com vícios e virtudes, revelou um grave esquema de corrupção e roubalheira praticado por políticos, empresários e partidos (destaque ao PT).

Havia um esquema muito claro que pretendia manter uma estrutura de poder na qual dificilmente haveria a alternância política. A intenção da quadrilha era se manter no poder cooptando políticos e empresários, o que fere gravemente a democracia. A lisura das eleições e a garantia dos direitos civis e políticos simplesmente seriam letra morta, com o enquadramento das instituições de representação e de justiça nas mãos dos criminosos.

O ex-presidente Lula e muitos de seus séquitos foram presos nesta Operação. Houve relaxamento da sua pena tendo como base da sua defesa a falta de imparcialidade do ex-juiz Sérgio Moro (ex-ministro de Bolsonaro e hoje pré-candidato a Presidente), levando o STF a anular todas as condenações.

O Brasil é um país de alto índice de impunidade, conforme dados do Global Impunity Index. Neste, o Brasil foi diagnosticado como um país de altíssima impunidade. Não à toa, o crime organizado seja algo tão lucrativo no país.

Segundo pesquisa do instituto Latinobarómetro, o brasileiro é o que menos confia nos partidos na América Latina. Não é de admirar que boa parte do eleitorado brasileiro tem ojeriza ao PT.

Concluindo, há incompatibilidade entre crime organizado e democracia. Quanto maior um, menor o outro. A correlação é inversa. Para melhorarmos o nível de nossa democracia, temos que combater o crime organizado. Mas a resposta de nossas instituições não é boa.

Temos hoje um pré-candidato chefe de quadrilha. Que agora pede, conforme reportagem da Veja, que o eleitor esqueça o passado (dele e do PT) e lance olhos para o futuro. O que eu vejo é um futuro com mais crime organizado e menos democracia caso o PT vença.

José Maria Nóbrega, cientista político e professor universitário

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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