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Os economistas manetas que assessoram quatro dos pré-candidatos a presidente

"Os economistas que assessoram quatro dos pré-candidatos a presidente da República são manetas, a julgar pelos seus artigos publicados na Folha". Leia o artigo de Sérgio C. Buarque

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SÉRGIO C. BUARQUE

Publicado em 19/01/2022 às 6:08
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Incomodado com as análises dos seus assessores econômicos, o presidente Harry Truman fez um pedido insólito ao seu assistente: "Me traga, por favor, um economista maneta". Não aguentava mais as suas posições inconclusivas: "On the one hand" (por um lado), "on the other hand" (por outro lado). Os economistas que assessoram quatro dos pré-candidatos a presidente da República são manetas, a julgar pelos seus artigos publicados na Folha de São Paulo.

O economista Guido Mantega, que representa Luís Inácio Lula da Silva, rejeita o Teto de gastos porque pretende implantar um ambicioso programa de gastos públicos, ignorando completamente as suas consequências, no meio de uma crise fiscal, e diante de uma tendência inercial de expansão das despesas primárias. Sem questionar o Teto de gastos, o economista Nelson Marconi, que representa Ciro Gomes, aposta na criação de impostos sobre dividendos e na redução de subsídios e isenções fiscais, para aliviar a crise fiscal, parecendo desconsiderar que o Brasil já tem uma pesada carga tributária, que compromete a poupança e inibe os investimentos privados.

No outro extremo, Henrique Meirelles, economista de João Dória, defende uma redução futura da carga tributária, ao mesmo tempo em que propõe um Estado forte para, segundo ele, proporcionar qualidade de vida e prosperidade. Esquece que uma diminuição da receita (como percentual do PIB) tornará impossível enfrentar o enorme passivo social do Brasil, com demanda grandes investimentos públicos. O único assessor econômico que destaca a necessidade de diminuição das despesas, cortando desperdícios e privilégios, é Affonso Celso Pastore, economista de Sérgio Moro que, ao contrário de Meirelles, não fala em diminuição da carga tributária. A mão que lhe falta é política: como pretende quebrar o que chama de "capitalismo de compadrio", o corporativismo e a barganha política? Meirelles e Pastore propõem o aperfeiçoamento regulatório e a melhoria do ambiente de negócios porque apostam numa crescente participação dos investimentos privados na economia brasileira.

Das ideias dos economistas manetas, alguns aspectos são fundamentais para a retomada consistente da economia: reformas estruturais para reduzir as despesas primárias, garantia do teto de gastos para conter o populismo, e manutenção da carga tributária com reorientação dos investimentos públicos para enfrentamento do passivo social.

Sérgio C. Buarque, economista

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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