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"São as contradições que nos definem e ao mesmo tempo nos desmantelam".

Não faltam, ainda, os que discorrem sobre a maravilha da liberdade de expressão, professam um respeito fingido, mas sedutor, à Constituição, e flertam com o demônio da ruptura institucional.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
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Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Publicado em 17/02/2022 às 0:00 | Atualizado em 17/02/2022 às 8:20
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GRANDE RECIFE Sem empregos e com renda cada vez menor, famílias seguem migrando para favelas, onde ocupam lares em condições subumanas e contam com a ajuda de desconhecidos - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Trafegando pelas ruas, o motorista se depara com pessoas erguendo tampas de isopor com mensagens escritas de fome ou de desemprego. Difícil saber quem fala a verdade ou quem nisso encontrou a galinha dos ovos de ouro para tornar-se pedinte profissional.

Em praças e outros pontos das metrópoles, não é cena rara varais estendidos ou fontes usadas como chuveiros, e, nos semáforos de cruzamentos movimentados, crianças usadas como chamarizes para a captação de trocados.

Em ano eleitoral, a pobreza é nicho precioso, conquanto no discurso por voto a retórica seja diversa. Na outra ponta, nunca se venderam tantos bens de consumo de luxo. Somos uma sociedade foliã, porém, mesmo a pandemia ainda castigando, tem quem não pareça importar-se: há até risos de deboche contra os mais cautelosos. A humanidade tragicamente absorvida em paradoxos.

Louvamos no Nordeste do País a transposição do Velho Chico, mas das 68 cidades que deveriam receber água da obra, em Pernambuco, apenas 7 foram beneficiadas. Famílias ficam até 18 dias desabastecidas, dependentes, exclusivamente, de carros-pipa. Enquanto isso, o Governo Federal assina um decreto liberando passagens aéreas de classe executiva para seus servidores em voos internacionais com duração acima de 7 horas.

Os reality shows da tv se repetem, com a mesma fórmula de promiscuidade e diálogos medíocres, enquanto se sabe que o brasileiro lê pouco e por tabela pouco valoriza seus reais artistas nos múltiplos segmentos criativos, muitos ainda hoje anônimos. Livrarias fecham as portas e ninguém sai para protestar.

Não faltam, ainda, os que discorrem sobre a maravilha da liberdade de expressão, professam um respeito fingido, mas sedutor, à Constituição, e flertam com o demônio da ruptura institucional.

Disse Gore Vidal: "São as contradições que nos definem e ao mesmo tempo nos desmantelam". O segredo da libertação do círculo vicioso é não aprisionar-se nas contradições. É fazer do limão, limonada. É evoluir, pensar fora da caixa. Parado no mesmo canto, não vai. O indivíduo murcha, esturrica e morre, sem ter pelo que ser lembrado.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

 

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