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A arquitetura do mal, os médicos e a alemanha nazista

Com manada humana não se brinca. Para uma nova arquitetura do mal, basta um passo e depois que acontece, fica todo mundo perguntando: como foi possível chegar a esse ponto?

SÉRGIO GONDIM
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SÉRGIO GONDIM
Publicado em 18/02/2022 às 0:00 | Atualizado em 18/02/2022 às 8:05
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O livro, escrito por Hitler para justificar o nazismo, sairia em janeiro. Outras duas edições continuam existindo - FOTO: Reprodução
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Durante a pandemia, os documentários disponibilizados na TV foram assistidos como nunca, sendo particularmente doloroso lembrar da participação de médicos na Alemanha nazista.

Aquele país já era um centro avançado na medicina e muitas doenças levaram o nome de pesquisadores alemães. A comunidade médica mundial recentemente fez uma revisão e adotou várias mudanças, após a constatação de que tais cientistas se envolveram com as atrocidades do nazismo e não mereciam nenhuma homenagem.

É estarrecedor perceber que se voltaram contra a espécie humana de forma tão cruel e criminosa, a pretexto de selecionar uma raça pura. Como pode ter ocorrido a transformação de dedicados estudiosos, em monstros? Quais argumentos os afastaram dos fundamentos da ciência médica, para enveredar pelo assassinato brutal em massa. Terá sido por ambição, prestígio perante os generais, favores concedidos pelo poder, covardia, instinto de sobrevivência? O fato é que muitos foram além de cumprir ordens e assumiram o protagonismo do mal. Tinham consciência dos crimes, fizeram malabarismos para ocultá-los e continuar fazendo parte da turma.

São cenas fortes que envergonham a classe e os seres humanos. Não podem ser esquecidas.

Não existe comparação, mas é prudente ter atenção para certos comportamentos. A "Arquitetura da destruição" pode começar enaltecendo os fortes em detrimento dos "fracos", com experimentos médicos não submetidos aos conselhos de ética, com a divulgação de resultados falsos, a aplicação de tratamentos sem eficácia comprovada fora de protocolos de pesquisa, a criação de uma realidade própria dissociada dos conhecimentos acumulados, a ocultação de diagnósticos nas estatísticas oficiais, a indução de erros estratégicos com resultado mortes, a suspensão do tratamento de idosos não terminais ou a politização de atos médicos ao sabor de crenças. É claro que mentiras descaradas em temas que dizem respeito à saúde pública por parte de quem deveria zelar por ela ocupam posição avançada na escala do perigo. Ter a consciência do erro e praticá-lo também é grave, como ocorre quando alguém sabe que uma máscara protege contra um vírus, mas não usa para ser bem aceito na turma. O alerta deve ser máximo quando a pregação atinge uma criança cujo pai, convertido à antivacina, proíbe a hemotransfusão que salvaria seu filho porque o doador do sangue havia sido vacinado contra a Covid 19!

Com manada humana não se brinca. Para uma nova arquitetura do mal, basta um passo e depois que acontece, fica todo mundo perguntando: como foi possível chegar a esse ponto?

É fácil saber como começa, basta olhar ao redor.

Sérgio Gondim, médico

 

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