OPINIÃO

De onde surge a Guerra da Ucrânia e em que ela dará?

A Rússia acabou herdando todo o poderio bélico e boa parte do território da URSS, e mesmo havendo aceitado que os países coirmãos se tornassem livres e independentes, sempre exerceu forte influência sobre eles, principalmente os que fazem fronteira com a maior nação do mundo; não por acaso, a Ucrânia é um deles.

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LUCAS ARRUDA

Publicado em 28/02/2022 às 9:21
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A invasão da Rússia ao território ucraniano colocou a ordem mundial estabelecida no pós Guerra Fria em xeque. A União Soviética, que houvera deixado de existir de fato em 1991, aparentemente sobrevive em espírito nos sonhos mais megalomaníacos do líder russo Vladmir Putin – o qual ignora solenemente a soberania da Ucrânia como país livre e independente. Para entender tudo que está acontecendo no Leste Europeu, é importantíssimo regressar ao Século XX, e, a partir dele, responder ao seguinte questionamento: de onde surge a Guerra da Ucrânia e em que ela dará?

Em 1945, o mundo celebrava o fim da Segunda Guerra Mundial, o conflito mais mortal da história da humanidade. Com a derrocada do Partido Nazista e da descomunal sede de poder de Hitler, o continente europeu finalmente poderia aspirar a tempos de paz para se reerguer dos 6 anos de destruição em suas cidades. Porém, o que até certo ponto configurou-se como trégua, rapidamente se transformou em tensão e terror.
De um lado, os Estados Unidos com a Doutrina Truman tentavam expandir sua estratégia de influência econômica, militar e diplomática nos países da Europa completamente arrasados pelos bombardeios, como a fração Ocidental da Alemanha. Do outro, a gigantesca União Soviética, que não abria mão do domínio do Leste Europeu e da fração Oriental da Alemanha - separada após a Segunda Guerra como forma de punição. Dada esta realidade, o velho continente, dividido por uma “Cortina de Ferro”, viu-se novamente a beira de um conflito que possivelmente extrapolaria em todos os sentidos o anterior.
A medida em que os anos se passaram, os ânimos se acirraram e os países se armaram, Estados Unidos e União Soviética formaram grupos com outros Estados que, em tese, serviriam de cooperação mútua – especialmente no que concerne à defesa das nações membro. Os EUA desenvolveram em 1949 a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que até os dias atuais existe e conta com a participação de 28 países. A União Soviética, como resposta, criou o Pacto ou Tratado de Varsóvia, em 1955. A aliança militar tinha como lema “união de paz e socialismo” e era uma clara rival dos interesses norte-americanos.
Após 1991, entretanto, devido a uma série de crises internas, ocorreu um processo sequencial de independência dos 15 Estados que faziam parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – dentre os quais estava a Ucrânia.
A Rússia acabou herdando todo o poderio bélico e boa parte do território da URSS, e mesmo havendo aceitado que os países coirmãos se tornassem livres e independentes, sempre exerceu forte influência sobre eles, principalmente os que fazem fronteira com a maior nação do mundo; não por acaso, a Ucrânia é um deles. Prova tal que, em muitas regiões do país, o ucraniano divide espaço com o russo como língua local, além do sentimento de pertencimento à Ucrânia ser quase inexistente em dados espaços.
A tomada da Crimeia – região autônoma situada à época em território ucraniano - pelos russos, em 2014, possibilitou um primeiro vislumbre do que o mundo presencia hoje, com a Rússia agindo quase que como uma mãe “superprotetora”. É essa imagem que se repete agora, em 2022, quando analisamos o que motivou o início de tudo isso.
Com o interesse expresso por Volodymyr Zelesnsky – presidente ucraniano - em fazer parte da OTAN, grupo criado pelos Estados Unidos e rival histórico dos interesses da Rússia, Putin se sentiu no direito de esquecer que os Estados são soberanos segundo a Carta das Nações Unidas, e após reconhecer a independência de duas regiões separatistas da Ucrânia, desde a madrugada da última quarta-feira (23) invade o país vizinho numa clara demonstração de megalomania e autoritarismo. Alegando que o faz pela segurança do seu país, o líder russo deixa claro que sua intenção nada mais é do que se sentir grande e aclamado; não tem conseguido.
Além de não ser bem recebida pela própria população russa, a decisão de Putin de invadir a Ucrânia deixa evidente que não há mais espaço para guerra no mundo de hoje. Afinal, em que ela vai contribuir para sanar os grandes problemas da humanidade no século XXI? Será que ainda não deu para entender que ninguém sai realmente vencedor de qualquer guerra? Ou ainda, por que dar lugar a conflitos armados quando a diplomacia deveria ser a maior arma de um mundo dito globalizado?
A única resposta para estas indagações é que nada disso é levado em consideração quando a sede de poder domina a mente de um líder. Se Putin deseja restaurar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a anexação da Ucrânia é o primeiro passo, só a história dirá. O que ela já diz, contudo, é que não se nomeia líder aquele que para liderar extermina as liberdades individuais e coletivas; nomeia-se genocida. Qual epíteto Putin receberá?


 Lucas Arruda, estudante 

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