OPINIÃO

A nossa esquerda, Putin e o fracasso civilizatório

O que vemos é uma injustificável e criminosa invasão. Massacre humanitário, por vontade de um déspota, em aparente delírio de ir recompondo a URSS. E o caos nuclear ganha pontos na escala de probabilidade. Fracasso do Homo sapiens. Esse Putin...

Tarcisio Patricio
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Tarcisio Patricio
Publicado em 15/03/2022 às 0:00 | Atualizado em 18/03/2022 às 12:06
DIMITAR DILKOFF / AFP
Mulheres e crianças estão deixando a Ucrânia por conta da invasão russa - FOTO: DIMITAR DILKOFF / AFP
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Nascido em 1950, sou um daqueles que, desde 1960-70, acompanham a prática de dominação geopolítica dos EUA. Esse país, "símbolo da democracia", sempre apoiou ditaduras sanguinárias na América Latina, e promoveu invasões e guerras, em particular no Oriente Médio e na Asia. Naqueles anos, o Brasil - como importante quintal da dominação geopolítica norte-americana - respirava o ar quente da Guerra Fria, em que a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) era, desde 1949, destacada peça ocidental na "defesa contra o comunismo".

Dois polos "ameaçadores": a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) - desde 1917 - e a China Comunista (desde 1949). Cuba (a partir de 1959), com Fidel Castro, era outro polo "ameaçador", embora mais peça de propaganda que interessava aos EUA do que real perigo. Foi nesse berço que se consolidou, aqui, a esquerda - a armada e a desarmada, nesta incluída o Partido Comunista Brasileiro, companheiros de viagem desse partido, e frações da classe média - estudantes, intelectuais, sindicalistas, e estratos operários militantes e não militantes. Depois, veio o PT (1980), que cedo teve base popular, o que ainda o sustenta. Mas, pelas vias do caciquismo, o PT tem sempre "o imperador" a conduzi-lo - formal ou informalmente.

Alguns pecados seminais dessa esquerda: 01) a escolha, da ala radical, por luta armada em 1968-1973, quando o PIB do Brasil crescia à média anual de 11,0% (!); 02) o mergulho de governos do PT no "mensalão"-"petrolão", sob o manto de "garantir governabilidade"; 03) o "esquerdismo" da polarização "nós" e "eles", mãe da polarização atual. Agora, o equívoco da não condenação expressa do ataque da Rússia à Ucrânia, calcado em mero anti-americanismo e em ecos saudosistas dos tempos da "Mãe Rússia Socialista". (Erros ou padrão?)

Se a racionalidade imperasse nas relações entre grandes potências, não haveria mais a OTAN "defensiva", pós- 1991 (dissolução da URSS). O capitalismo só piorou e o comunismo revelou-se despotismo de castas, e desmoronou; coisa natimorta, sobrevive na cabeça de alguns sonhadores. Restam disputas econômica e geopolítica entre potências nucleares. A respeito da "guerra de Putin", a mais sensata avaliação que li é a de Henry Kissinger, em 2014 (anexação da Criméia pela Rússia).

A essência: reduzir o expansionismo da OTAN, e a Ucrânia ficar livre para autodeterminação, em respeito à história e àquela Nação. Vejo que Trump empurrou com a barriga a atual demanda ucraniana para acesso à Otan. Biden resolveu pressionar. Errou. Mas, o que vemos é uma injustificável e criminosa invasão. Massacre humanitário, por vontade de um déspota, em aparente delírio de ir recompondo a URSS. E o caos nuclear ganha pontos na escala de probabilidade. Fracasso do Homo sapiens. Esse Putin...

Tarcisio Patricio, economista e professor aposentado (UFPE)

 

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