OPINIÃO

Cabe perguntar se o aumento dos juros será capaz de domar a inflação

A resposta é positiva se a inflação for de demanda quando o nível de preços é pressionado pela expansão do consumo, do investimento e dos gastos do governo que levam a economia próxima ou acima da sua capacidade instalada.

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JORGE JATOBÁ

Publicado em 22/03/2022 às 10:55 | Atualizado em 22/03/2022 às 10:56
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A inflação atua como um imposto que atinge a todos, sobretudo os mais pobres porque impacta mais os preços dos alimentos. Até fevereiro passado a inflação em 12 meses medida pelo IPCA foi de 10,84% enquanto a inflação dos alimentos, no mesmo período, medida pela variação de preços da cesta básica foi de 12,67%. O Banco Central (BACEN) é o xerife da estabilidade de preços e sua principal arma é a taxa básica de juros (Selic) que foi definida na última reunião do Conselho de Política Monetária (COPOM) em 11,75%.
Cabe perguntar se o aumento dos juros será capaz de domar a inflação. A resposta é positiva se a inflação for de demanda quando o nível de preços é pressionado pela expansão do consumo, do investimento e dos gastos do governo que levam a economia próxima ou acima da sua capacidade instalada. Neste caso, a taxa de desemprego é baixa e os salários tenderiam a se elevar.

Neste caso, aumentar a taxa de juros é o caminho de qualquer banco central. Todavia, este não é o caso do Brasil, nem de muitos países do mundo. Estamos enfrentando uma inflação de oferta caracterizada por choques de preços de energia (petróleo e derivados), ruturas nas cadeias de fornecimento de matérias primas e alta das commodities (alimentos e metais).

Tivemos ainda uma crise hídrica e o repasse inflacionário de um dólar caro. Essas pressões inflacionárias foram causadas em parte pela pandemia e severamente agravadas pela invasão russa da Ucrânia. São estrangulamentos na oferta que não são resolvidos pelo aumento da taxa básica de juros. Os gargalos precisariam ser removidos junto com a instabilidade dos mercados ou eliminados com a superação da crise sanitária e do conflito geopolítico no leste europeu para que a inflação começasse a ceder. Aumentar os juros é uma medida contracionista porque torna o custo do financiamento para consumidores e investidores bem mais alto. A resultante é o agravamento da situação econômica do país que já projeta para este ano crescimento econômico pífio (entre 0,3% e O,5%) e desemprego elevado (12 milhões).
Então, o que fazer? O BACEN não pode ficar passivo. Tem que agir porque se não o fizer as expectativas de maior inflação se consolidarão.

Os agentes econômicos esperam que o BACEN ancore a inflação no centro da meta ou no seu entorno. Para isso eleva os juros básicos. Caso contrário como medida defensiva os atores econômicos irão, sucessivamente reajustar preços. Uma alternativa seria o BACEN moderar a intensidade e a frequência com que vem aumentando os juros. A leitura da ata do COPOM não indica que este será o caso. E os choques de oferta não têm previsão para acabar.


Jorge Jatobá, Doutor em Economia

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