OPINIÃO

No Brasil, desde Bolsonaro, a liberdade de expressão só piora

"A continuidade das violações à liberdade de imprensa no Brasil está claramente associada à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República".

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JULIANO DOMINGUES

Publicado em 27/03/2022 às 9:45
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 A situação do Brasil em termos de liberdade de expressão e de imprensa tem piorado nos últimos anos, especialmente desde 2019. Diferentes relatórios apresentam resultados similares nesse sentido e indicam uma conclusão comum: o presidente da República e seus apoiadores se destacam como principais agressores.

Pela primeira vez em 20 anos o Brasil passa a figurar na zona vermelha do ranking da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Na análise do RSF, isso não se deve ao acaso: “Qualquer revelação da mídia que ameace os seus interesses ou de seu governo desencadeia uma nova rodada de ataques verbais violentos, que fomentam um clima de ódio e desconfiança em relação aos jornalistas no Brasil”, lê-se no documento.

O Brasil caiu quatro posições entre 2020-2021 e está em 111o numa lista de 180 países. Vale destacar que estivemos nesta mesma posição em 2014, quando o relatório capturou o clima de hostilidade em relação à imprensa nos protestos de rua de 2013. Naquele momento, no entanto, a autoria dos ataques se mostrava difusa, ao contrário do que se verifica atualmente, quando os números sugerem uma associação entre Bolsonaro e a piora dos indicadores.

A mais nova edição do relatório da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) segue a mesma linha: “A continuidade das violações à liberdade de imprensa no Brasil está claramente associada à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República”. Em 2021, o número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação bateu recorde na série histórica, iniciada ainda nos anos 1990: foram 430 ataques, sendo Bolsonaro o principal agressor.

Conclusão similar está presente no relatório produzido pela principal associação de empresários da comunicação do Brasil, a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão). O documento registra um aumento de 22% dos casos de violência contra a imprensa. Estudo realizado pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) aponta, ainda, que o alvo preferencial das agressões são mulheres: elas representam 91,3% das vítimas.

Relatórios que mensuram sistematicamente esses dados cumprem um papel fundamental para a história da democracia brasileira: dão uma ideia do dano causado e provocam indivíduos e instituições a uma reflexão sobre as consequências de suas escolhas político-eleitorais.

Juliano Domingues, jornalista, é coordenador da Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

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