OPINIÃO

Guerra na Ucrânia: Os EUA e a Europa têm vida pregressa longe da isenção de grandes pecados.

Democracias que deixaram rastros de sangue e estupro em guerras e invasões, como todo país invasor. E apoiaram regimes ditatoriais. Subestimaram Hitler e Mussolini.

Tarcisio Patricio
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Tarcisio Patricio
Publicado em 29/03/2022 às 0:00 | Atualizado em 29/03/2022 às 11:11
ARIS MESSINIS/AFP
SEM EXCEÇÃO Por causa da guerra, europeus querem atingir todos os magnatas que financiaram Putin - FOTO: ARIS MESSINIS/AFP
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A tragédia da Ucrânia pede análise cirúrgica, sem salamaleques ideológicos. Crise humanitária da vez, na mídia - outras seguem esquecidas. Esta tem um traço particular: pode, no limite, gerar uma 3ª guerra mundial, nuclear. Seguem anotações, sem vezo de abrangência, o que deixo para especialistas. Mera queixa de um cidadão perplexo, indignado [Curioso: ainda não sinto medo, é como se assistisse a um filme-releitura de Dr. Strangelove - Dr. Fantástico -, de Stanley Kubrick]. O modo como reajo ao que ocorre na Ucrânia é o mesmo desde o início da "Operação Militar Especial" (Novilíngua de Putin).

Os EUA e a Europa têm vida pregressa longe da isenção de grandes pecados. Democracias que deixaram rastros de sangue e estupro em guerras e invasões, como todo país invasor. E apoiaram regimes ditatoriais. Subestimaram Hitler e Mussolini. Não perdem o anacrônico pendor imperialista. No topo de atrocidades, as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de agosto, 1945) - em retaliação ao ataque, covarde, à base militar americana de Pearl Harbor (07/12/1941). Uma reação covarde, sobre população civil, nunca tratada pelo real nome: crime de guerra e holocausto. Predomina a narrativa dos vitoriosos, com o argumento "conveniente" de que mais mortes haveria - principalmente de soldados americanos(!) - se os EUA enfrentassem os japoneses, inclusive os kamikazes (suicidas) e a força aérea, em longa luta. Troca de mortes - principalmente de militares - pelo extermínio de dezenas de milhares de civis de duas cidades sem estratégica relevância militar. Ademais, testaram o artefato nuclear e justificaram os grandes gastos envolvidos na fabricação das bombas. Estimados cerca de 250 mil óbitos, em termos imediatos e dias depois das bombas. Afora o sofrimento que se arrastou ao longo dos anos, com impactos intergeracionais na saúde de cidadãos japoneses.

Agora, EUA e Europa erraram em não levar em conta conselhos de Henry Kissinger, em 2014, para evitar o que se tornou pesadelo real. Nada disso justifica o crime de Putin. Já é público que a "Operação" teria planejamento de pelo menos oito anos, desde o êxito da invasão da Criméia. E o discurso dele tem, pelo menos, dois aspectos reveladores. Um, o desejo de reverter a história, buscando uma nova URSS. Outro, afirmação de que a Ucrânia não deve existir como país, seria parte integrante da Rússia. Duvido: veja-se que Nação é a Ucrânia, depois de sobreviver a coletivização forçada (1932-33) e à decorrente fome massiva, e fazer decisiva "revolução pela liberdade", ocupando a Praça de Maidan (em Kiev), durante 93 dias (nov2013-fev2014) - documentário YouTube, WINTER ON FIRE. Do outro lado, uma "democracia" imperial que sequer tem um Centrão, tem monolítico parlamento (DUMA) do "sim, sr."

Tarcisio Patricio, é economista e professor aposentado (UFPE)

 

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