OPINIÃO

Ler e escrever são básicos à formação plena. O mundo da leitura é o caminho à leitura do mundo.

À escola, incumbe chamar a si a árdua, mas necessária, tarefa de aguçar o pensamento crítico, promover o debate das ideias, levantar assuntos da atualidade e sempre com o senso democrático da liberdade de expressão

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ROBERTO PEREIRA

Publicado em 11/04/2022 às 11:52
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A ética é um dos pilares da cidadania. Rumo e prumo às relações humanas e às conquistas sociais. Ela situa no epicentro dos debates, por exemplo, o meio ambiente e a sua preservação, o desenvolvimento sustentável, trabalho e oportunidades, distribuição de rendas e a busca da justiça social, temas que emolduram o painel básico à consecução da cidadania.

Uma distribuição de rendas mais equânime e mais justa promove a humanização do desenvolvimento. Aqui, o desejo do mundo diante do social. O atual sistema, independentemente do matiz ideológico, está esgarçado pela miséria e fissuras, além da falta de emprego e oportunidades. Recentemente, a pandemia da Covid -19, um mal avassalador. Agora, a invasão da Ucrânia pela Rússia. Guerra. Barbárie. Corrupção. O homem lobo do próprio homem.
Há dias, ministrando uma palestra, adveio a pergunta: professor, qual o seu conceito sobre educação? De pronto, respondi: um conceito amplo e diversificado. Acima do aprendizado do conhecimento e de outros saberes, que possam intuir o educando ao pensamento cognitivo. Entendo como um processo de formação integral da criança – “o casulo do homem” – e do jovem.
No processo ensino-aprendizagem é importante que a formação tecnológica não descure do dever de incluir o educando no espaço da tecnologia, da internet, da inovação, dos processos cibernéticos, tudo para que o estudante, até antes de se graduar, já esteja capacitado à empregabilidade. No Brasil, é grande o abismo digital, sobretudo no pós-pandemia.
A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) prevê, até o ano de 2025, que o Brasil deva movimentar 800 mil novos talentos, enquanto o défice projetado, até lá, chega a 530 mil profissionais.
Sem esquecer, a formação ética, moral e religiosa. Um saudável exercício da cidadania. Valores cívico-culturais. Socialização, um fator importante à vida. Inteligência emocional, fundamental à maturidade.
Uma construção do humano em cada homem. Esta, no meu entender, a engenharia que se presume à felicidade de quem, crescendo no adulto, constituindo família, sabe se conduzir nessa constelação.
Sendo pessoa, saber-se gente e agente do bem-estar social. Capaz de amar no sentido puro da palavra. Um amor, à Dante, capaz de mover o sol e as outras estrelas. De amar ao próximo como a si mesmo, seja como mandamento de Deus, seja como conduta de vida.
À escola, incumbe chamar a si a árdua, mas necessária, tarefa de aguçar o pensamento crítico, promover o debate das ideias, levantar assuntos da atualidade e sempre com o senso democrático da liberdade de expressão. Se a escola não capacitar os seus educandos ao exercício da reflexão, criando uma simetria entre o conhecimento e a interpretação desse saber, ela não estará cumprindo o papel que lhe cabe no contexto da sociedade.
Ler e escrever são básicos à formação plena. O mundo da leitura é o caminho à leitura do mundo. Fomentar o questionamento abre aos estudantes as fronteiras das ideias. A ética e a justiça social precisam entrar na agenda dos estudantes. Levar a juventude à rota do conhecimento, do crescimento intelectual e humano, esta a estrada do desenvolvimento social.
Uma educação universal e de qualidade prepara os adolescentes aos desafios das questões sociais. A excludência social, tratada nas lides escolares, deverá posicionar o adulto do futuro. A promoção de uma distribuição de rendas mais equânime passa a ser um princípio imutável de justiça.
E qual a fórmula à construção da cidadania? E como conciliar o crescimento econômico com o progresso social? As respostas estão numa educação para todos e apta à solidez da cidadania. A globalização reclama um adensado conhecimento. É na base da pirâmide educacional que se inicia a inclusão social. Daí, se quisermos para as novas gerações uma trajetória à altura da humana ansiedade, impõe-se uma educação universalizada e de qualidade, desde as classes iniciais.
À nossa frente o painel dos avanços científicos, um espocar tecnológico, uma revolução midiática; assim, a escola não pode perder a sua rota, ficar inerte nestas encruzilhadas.
A escola, somente pela criatividade, pela inovação, pelos avanços dos seus métodos e dos seus instrumentos, poderá robustecer a sua vértebra estratégica para saber responder presente ao futuro das gerações que se sucedem neste mundo cada vez mais singular e plural.


Roberto Pereira é ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco

 

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