OPINIÃO

BBB 22: a relação entre o Big Brother Brasil 22 e política

Para além de entretenimento, o reality show apresenta características básicas de participação e de representação comuns a democracias

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JULIANO DOMINGUES

Publicado em 24/04/2022 às 13:13 | Atualizado em 26/04/2022 às 15:41
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É bom ficar de olho na reta final do BBB 22, que termina nesta terça (26). Para além de entretenimento, o reality show apresenta características básicas de participação e de representação comuns a democracias.

A escalação dos participantes desta edição refletiu a intensificação do movimento da Globo de conferir maior diversidade ao programa. As pautas étnica, de gênero e de orientação sexual foram reforçadas por uma decisão política da emissora, alinhada a princípios de tolerância e pluralidade de vozes. No início, havia ao menos dois gays, uma lésbica, um bissexual e uma mulher transexual; e pelo menos oito dentre os 20 integrantes eram negros.

Gradualmente, no entanto, esse quadro foi sofrendo modificações significativas, de tal modo que, na última semana, havia apenas homens heterossexuais na casa. Enquetes de sites que cobrem televisão dão como certa a vitória do ator carioca Arthur Aguiar, homem, branco, hétero, ex-Malhação, famoso por trair sua esposa, Maíra Cardi, e por sua disposição ao embate. O quanto esse quadro nos revela sobre o contexto político brasileiro atual?

Estudo realizado pelo professor Stephen Coleman, da Universidade de Leeds, Inglaterra, investigou essa relação entre Big Brother e política no Reino Unido. Em linhas gerais, a pesquisa constata que telespectadores fazem julgamentos políticos com as mesmas lentes utilizadas para avaliar o comportamento dos integrantes do programa. Critérios como "ser genuíno e autêntico" guiam tanto suas escolhas no "paredão" quanto na disputa de primeiro-ministro.

Assim como em uma eleição, os telespectadores de um reality como Big Brother são incitados a acompanhar a rotina dos candidatos ao prêmio, julgar o comportamento deles e manifestar sua opinião por meio do voto, punindo-os com a exclusão ou recompensando-os com a manutenção na casa. Não muito diferente do que ocorre em escolhas eleitorais, pesa muito mais nessa decisão aquilo que se sente do que o que se sabe sobre os candidatos.

O BBB, portanto, pode ganhar outro status se for entendido como uma espécie de simulacro capaz de refletir, em alguma medida, sistemas políticos e valores difusos na sociedade. A partir dessa perspectiva, o resultado desta edição pode indicar algo bem significativo e, ao mesmo tempo, preocupante.

Juliano Domingues, coordenador da Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

 

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