Torre Malakoff: sim, este nome estranho à língua portuguesa é ucraniano
Impressionados com as notícias da famosa batalha, os recifenses ignoraram o nome original da torre e passaram a chamar Torre Malakoff. Desde então, a distante Ucrânia passou a ocupar espaço destacado no bairro histórico do Recife
O Recife tem uma relação histórica com a Ucrânia, simbolizada num dos monumentos mais importantes da Cidade: a Torre Malakoff. Sim, este nome estranho à língua portuguesa é ucraniano. Como chegou até nós a ponto de dar nome a um monumento? Em meados do século XIX, enquanto o Arsenal de Marinha estava construindo uma torre que deveria se chamar Portão Monumental, a população do Recife era impactada com as notícias dramáticas da guerra da Criméia, no longínquo e desconhecido Mar Negro. O mais importante evento desta guerra foi a ofensiva de tropas franceses, que tomaram a torre fortificada de Malakoff, permitindo o controle de Sebastopol, principal cidade da Criméia.
Impressionados com as notícias da famosa batalha, os recifenses ignoraram o nome original da torre e passaram a chamar Torre Malakoff. Desde então, a distante Ucrânia passou a ocupar espaço destacado no bairro histórico do Recife. Agora, mais de 160 anos depois daquela batalha que deu nome à nossa torre, a Ucrânia está sendo invadida pela Rússia, agressão que foi antecipada, em 2014, precisamente pela anexação da Criméia, território ucraniano desde 1954.
Embora a denominação de Torre Malakoff não tenha sido uma homenagem a qualquer dos contendores daquela guerra da Criméia, o Recife deveria lembrar a relação histórica criada pela Torre, manifestando solidariedade com o povo ucraniano agredido pelas tropas russas. Como manifestar essa solidariedade? Citando iniciativas de cidades espanholas que passaram a adotar, simbolicamente, nomes emblemáticos da Ucrânia aos seus monumentos e logradouros – Fuentes de Andaluzia se autodenominou Ucrânia e algumas das suas ruas passaram a se chamar Kiev, Odessa e Mariupol - o economista Carlos Osório Cerqueira sugere um gesto semelhante da Cidade do Recife.
De imediato, o Recife poderia expressar a solidariedade com o povo ucraniano hasteando a bandeira azul e amarela da Ucrânia na Torre Malakoff. Simbolicamente, o Recife passaria a se chamar também, temporariamente, de Ucrânia e alguns dos seus bairros e praças poderiam adotar nomes ucranianos. O bairro do Recife poderia ser chamado de Kiev, a Praça da Independência seria Mariupol, o Parque da Jaqueira Odessa e Kharkov seria a Praça de Casa Forte. E a Praça Maciel Pinheiro, onde morou a ucraniana-pernambucana Clarice Lispector, deveria ser nomeada Chechelnyk, cidade natal da grande escritora. Apenas símbolos, claro. Mas, de grande valor humano e mesmo político.
Sérgio C. Buarque, economista