OPINIÃO

Em São Paulo, pesquisa científica aplicada à educação

O tamanho do abismo educacional causado pela pandemia ainda não está claro, até porque os resultados de 2021 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que podem nos dar uma ideia exata desse fosso, ainda não foram disponibilizados pelo MEC.

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MOZART NEVES RAMOS

Publicado em 02/05/2022 às 9:32 | Atualizado em 02/05/2022 às 9:43
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O país passa por um momento muito delicado no campo da educação. Nos últimos três meses, ao que parecia apenas falta de articulação política do Ministério de Educação (MEC) seguiu-se um mar de denúncias de mau uso do dinheiro público, levando inclusive à renúncia do ministro Milton Ribeiro. Isso é muito triste, principalmente neste momento pós-pandemia, em que já ficou constatado o grande déficit de aprendizagem escolar em nossas crianças, como resultado do longo tempo de escolas fechadas. Mais do que nunca esse seria o momento de o MEC fazer um grande esforço nacional, em colaboração com estados e municípios, para enfrentar a grave crise da aprendizagem escolar. Isso, entretanto, exigiria um ambiente mais tranquilo, que ajudasse na articulação das ações políticas.

O tamanho do abismo educacional causado pela pandemia ainda não está claro, até porque os resultados de 2021 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que podem nos dar uma ideia exata desse fosso, ainda não foram disponibilizados pelo MEC. O ideal seria que os municípios e estados já pudessem ter uma ideia desse quadro no início do ano letivo escolar, pois isso ajudaria a estabelecer estratégias mais assertivas para o enfrentamento do problema.
Enquanto isso, até pouco tempo atrás, alguns municípios brasileiros ainda resistiam em voltar às aulas presenciais, como foi o caso do município de Paulista, aqui em Pernambuco, cujos resultados educacionais, mesmo antes da pandemia, já eram muito preocupantes. Para ter uma ideia, dados de 2019 desta rede municipal de ensino, com base nos resultados do Saeb, em conformidade com a meta 3 do movimento Todos pela Educação, mostram que, de cada 100 adolescentes que concluem o Ensino Fundamental, apenas 9 aprenderam o que seria esperado em matemática; em língua portuguesa, a situação é apenas um pouco melhor: são 24 para cada 100 (www.qedu.org.br).
No quesito da transparência das informações e do impacto na aprendizagem escolar provocado pela covid-19, a rede estadual de São Paulo tem sido um exemplo para o país. Recentemente disponibilizou para toda a sociedade os resultados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), mostrando com clareza o real tamanho do problema para todas as etapas escolares. Por exemplo, ao final do Ensino Médio, os resultados em proficiência escolar em matemática mostraram um retrocesso de quase seis anos.
Para enfrentar o problema, o estado de São Paulo, numa parceria inédita entre a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (Seduc-SP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), lançou o Programa de Pesquisa em Educação Básica (Proeduca), no valor de R$ 30 milhões de reais, visando intensificar e fortalecer o desenvolvimento da aprendizagem escolar através do uso da pesquisa científica aplicada à educação. É assim que se faz política pública em educação!

Mozart Neves Ramos ,  titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e membro do Conselho Superior da Fapesp.

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