OPINIÃO

Gonzagão também é o rei da inovação

Gonzaga deixa o legado da nordestinidade, colimando-se com os maiores da música popular brasileira

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ROBERTO PEREIRA

Publicado em 14/05/2022 às 10:04
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Ninguém mais do que Luiz Lua Gonzaga do Nascimento contribuiu, através da música, para o conhecimento do Nordeste brasileiro. Telúrico, contou e cantou a saga nordestina, inovando com sua sanfona os ritmos, tal e qual fez com o forró e o baião, o xote e o xaxado.

Uma sanfona que ele juntou ao triângulo e à zabumba, fazendo o esqueleto do Brasil remexer. Superando
obstáculos, Gonzaga ganhou o mundo, antes residindo no Ceará e, em seguida, no Rio de Janeiro, quando
a sua musicalidade ganhou dimensão, a ponto de ter merecido um busto na Universidade de Oxford. Fui amigo de Lua, apelido colocado por Paulo Gracindo, numa referência ao seu rosto arredondado. A sua doença, câncer de próstata, descoberta em junho de 1989, deixou-o fora do ciclo junino, uma frustração para ele.

Em 2 de agosto do mesmo ano, 1989, chegou o dia nefasto para a cultura pernambucana. Gonzaga, imortalizado na sua arte, fechava os olhos, para ganhar a eternidade.

Gonzaga deixa o legado da nordestinidade, colimando-se com os maiores da música popular brasileira,
muitos dos quais também compondo e cantando o forró e o baião. Um outro legado, o da economia criativa
quando se interligou ao artesanato de couro no chapéu de cangaceiro, no gibão de vaqueiro, nas alpercatas também de couro, sendo esta a indumentária de Gonzagão, o Rei do Baião.

Tinha firmeza no produto defendido, a sanfona, sendo ele um autodidata, mas exímio nas tocatas que
realizava a cada apresentação. Luiz Gonzaga perseverou diante de todos os seus sonhos, tendo realizado
quase todos. Divulgou, o mais que possível, Pernambuco, além de ter cantado, com o seu vozeirão, a saga
nordestina. Cantou a gastronomia e a culinária pernambucanas, incentivando os restaurantes a colocar, nos
seus cardápios, pratos das letras de suas músicas ou das músicas de seu repertório, a exemplo da Feira de Caruaru e Ovo de Codorna, que fizeram sucesso na sua voz e, dentre tantas da sua autoria, Liforme Instravagante, que cria uma roupa à base de comidas nordestinas, como está, por exemplo, nos seus dois primeiros versos: “Mandei fazer um liforme / como toda a preparação / para botar no arraiá / na noite de São João.” “Chapéu de arroz doce / forrado com tapioca / as fitas de alfinim / e as fi velas de paçoca / a camisa de nata / e os botões de pipoca.”

Ainda podemos citar no plano da cultura (economia) criativa o quanto Luiz Gonzaga serviu de inspiração ao artesanato, principalmente o do couro, com relação à sua vestimenta, mas, também, ao artesanato de madeira, do barro etc., além da inspiração à música, à gastronomia e à moda. Estes valores culturais, da produção do Rei do Baião, formaram – e ainda formam –, com louvor, parte do tecido artístico-cultural pernambucano e nordestino, brasileiro.

Escolheu bons parceiros, o médico Humberto Teixeira e o advogado Zé Dantas, que abriram, ambos, portas à
elite para o cancioneiro de Gonzagão. Disputou mercado com a música popular brasileira, cantando o forró e o baião, o xote e o xaxado, com um vasto repertório que ensejou uma grande produção de discos, que ocuparam posição de destaque no hanking nacional de tiragens e vendas. Toda essa cadeia produtiva foi motivada por Gonzaga, o Rei do Baião, gerando, desde então, a economia criativa, que nem tinha sido ainda conceituada
como tal.

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