OPINIÃO

Quais as propostas das candidaturas presidenciais para destravar a economia, trazer dignidade à saúde e resgatar do marasmo a educação?

Se não estamos felizes com as opções dadas, o que temos feito para ampliálas, exceto ignorar e execrar a opção divergente do outro? De que maneira temos influído no processo político: tratando o voto como um fardo?

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
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Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Publicado em 05/08/2022 às 0:00 | Atualizado em 05/08/2022 às 8:50
RICARDO STUCKERT E ISAC NÓBREGA/PR
Os dois principais candidatos são Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) - FOTO: RICARDO STUCKERT E ISAC NÓBREGA/PR
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Raro o perfil de candidatura que não soa igual a disco arranhado. Que foge do script de repetir as mesmas frases de impacto e respostas genéricas às questões centrais. O modelo orientado pelo marketing parece afeiçoado a uma desmedida ambição épica, ao som de uma trilha sonora pronta para fazer chorar. O candidato autovangloria-se e ataca seus opositores. E o debate político vira uma reprise interminável do mesmo filme.

Quais as propostas das candidaturas presidenciais para destravar a economia, trazer dignidade à saúde e resgatar do marasmo a educação? Inevitável, na tela mental daí resultante, a conexão com o conceito de demagogia. Foi o cartão de visitas do folclórico Odorico Paraguaçu, Prefeito de

Sucupira, na novela "O Bem Amado", de Dias Gomes, de 1973, que falava, falava, abusava dos adjetivos e advérbios, sorria e gesticulava desmedidamente, mas, no fim, nada dizia, e, pior, nada realizava para melhorar concretamente a vida dos munícipes.

Frasista de mão cheia, porém, antes protótipo do embromador, disse Odorico certa vez, ao ressurgir dos mortos (tinha sido assassinado a tiros por Zeca Diabo na novela e retornou em série também na tv): "Volto disposto a esquecer o pratrasmente. Eu volto só pensando no amanhã e no depois do amanhã. A hora é de bola pra frente e ordinário, marche. Botando de lado os entretantos e partindo pros finalmentes, de braços estendidos e coração escancarado".

Que mudanças reais Odorico propunha? Aliás, sabia ele propor qualquer coisa, fora transferir a sede da ONU de Nova Iorque? Que amanhã vislumbrava? Quais os "finalmentes" divisava?

Se não estamos felizes com as opções dadas, o que temos feito para ampliálas, exceto ignorar e execrar a opção divergente do outro? De que maneira temos influído no processo político: tratando o voto como um fardo? E o papel de fiscais dos eleitos, como o estamos desempenhando: soltando cobras e lagartos na falsa coragem das redes sociais?

Sucupira morreu? E Odorico, que fim levou? Fez escola? Que um dia a vida não mais imite a arte. É a esperança que teima em resistir.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

 

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