Dia da Independência

Bicentenário da Independência foi chocho, com toque destoante de faixas por intervenção militar

Mais um 7 de setembro cercado de expectativas que testaram a suave brisa dos ares festivos

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
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Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Publicado em 07/09/2022 às 23:00
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Que Brasil temos construído nesses duzentos anos? Uma tosca bifurcação de torcidas que se detestam? - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM
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Mais um 7 de setembro cercado de expectativas que testaram a suave brisa dos ares festivos, ao menos na percepção dos bem informados.

Outra vez, bastidores a indicar que o Supremo Tribunal Federal, um dos vértices de sustentação da República, preparou-se para investidas hostis.

O bicentenário da independência do Brasil da Coroa Portuguesa, data que em qualquer Nação ex-colônia de outra seria celebrada à rouquidão, chegou cercado dessa pulga atrás da orelha. Foi chocho, com o toque destoante das faixas ansiando por nova intervenção militar.

De País agrário e escravista em 1822, o Brasil se tornou em 2022 uma das maiores economias do planeta. Vive o mais longevo, ainda que entrecortado por espasmos autoritários, período de alternância de poder. Foram-se a hiperinflação e quase o analfabetismo também. Todavia, os paradoxos se agitam como nunca. A miséria e a fome não são páginas viradas.

Como a principiar certa nota de positividade, impeditiva de que este momento ímpar e irrepetível se perca de vez em mediocridades, a notícia da reabertura do Museu do Ipiranga, instituição fundada em 1895, um dos mais importantes museus nacionais, fechado desde 2013 para reformas. 

Que Brasil temos construído nesses duzentos anos? Uma tosca bifurcação de torcidas que se detestam? É a isso que fomos reduzidos? Quantos se importam com uma efeméride histórica nessas condições políticas? Será essa mesmo uma escolha de Sofia? E se o verbo "comemorar" vem do latim "commemorare", a significar "lembrar juntos", por que não parece ser de unidade a sensação pulsante nos últimos feriados de 7 de setembro?

Disse o Presidente da CNBB, Dom Walmor de Azevedo: "Somos todos irmãos e irmãs corresponsáveis uns pelos outros". Pois que façamos da data a convocação ao reencontro e ao refazimento de pontes, ao perdoar e ao acolher, e a entender que tripulamos o mesmo barco, a navegar pelo mesmo rio de fortes correntezas. Ou bem então o sustentamos longe da queda d'água, ou bem nos resignemos de qual será o fim que nos espera. Há um grito no Ipiranga da alma popular que ainda ressoa.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

 

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