Rainha Elizabeth

A rainha republicana

Elisabeth II herdou o trono, mas reinou com o consentimento da população. A tarefa do Rei Charles III é construir o consenso, para assegurar longevidade à Monarquia.

GUSTAVO KRAUSE
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Publicado em 18/09/2022 às 7:00
JUSTIN TALLIS / AFP
Rainha Elizabeth II morreu nesta quinta-feira (8), aos 96 anos - FOTO: JUSTIN TALLIS / AFP
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A Rainha Elisabeth II recebeu justas homenagens ao assumir a imortalidade conquistada por longo e virtuoso reinado composto pelos países da Commonwealth, quinze dos quais como chefe de Estado.
Adjetivar a Monarca como republicana soa como uma contradição em termos.

Porém, breve incursão na Teoria das Formas de Governo demonstra que o atributo se aplica perfeitamente à Majestade britânica.

Tomando-se como ponto de partida a célebre discussão entre os persas Otanes, Megabises e Dario, imaginada pelo historiador Heródoto (século V a.C), passando pela A República (Politeia) de Platão (427-347 a.C,), pela teoria clássica das seis formas de governo de Aristóteles (384-322 a.C) em Política, chega-se à classificação de Maquiavel (1469-1527).

O gênio criador do filósofo florentino introduziu a palavra “Estado” para indicar que os gregos chamavam de polis e os romanos, res publica, ao afirmar categoricamente: “Todos os Estados que existem e já existiram são e foram sempre repúblicas ou monarquias (principados)”.

O romano Cícero (106-43 a.C), em obra clássica, adotou como equivalente à Politeia, a Res Publica, conceito que separava a “coisa pública” da “coisa privada”. Ao longo da história, o conceito de República incorporou como fundamentos o método democrático de escolha dos governantes em oposição à forma monárquica em que o poder, exercido de forma absoluta, era bem de família ou “direito divino” dos reis.

Lord Acton (1834-1902) imortalizou a frase: “O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus”. A realidade ratifica a sábia reflexão.

O desafio histórico é democratizar o acesso e assegurar a alternância pacífica do poder, garantir a liberdade e a igualdade de todos perante a lei.

Para tanto, a virtude cívica, em falta no Brasil, é o fundamento da República que, segundo Montesquieu, (1689-1755) “é o amor que, exigindo a preferência contínua do interesse público, em oposição ao privado, produz todas as virtudes particulares, as quais não são mais do que essa preferência”.

Na renúncia a si mesma a Monarca se fundiu com o ideal republicano. Não foi maior nem menor do que as instituições porque compreendeu a síntese entre tradição e modernidade e o equilíbrio do poder simbólico frente ao poder real do sistema parlamentarista.

Elisabeth II herdou o trono, mas reinou com o consentimento da população. A tarefa do Rei Charles III é construir o consenso, para assegurar longevidade à Monarquia.

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