Fake news, mercadores de atenção que destroem reputações
As "fake news" vêm sendo (despudoradamente) utilizadas inclusive no Brasil com forte apetite em épocas eleitorais, evidentemente para não só confundir ou tumultuar, mas destruir reputações com base em mentiras, dentro d
Originado do fim do século 19, o termo "fake news" se popularizou globalmente como designativo da informação falsa, fenômeno comum hoje nas redes sociais da internet.
É verbete xifópago de outro, o "pós-verdade", a indicar a convicção de que fatos objetivos têm menos influência do que o apelo à emoção.
As "fake news" vêm sendo (despudoradamente) utilizadas inclusive no Brasil com forte apetite em épocas eleitorais, evidentemente para não só confundir ou tumultuar, mas destruir reputações com base em mentiras, dentro da lógica de que mais vale o ataque a qualquer preço do que o debate sadio de pontos de vista.
É a reinvenção da máxima de que os fins justificam os meios, atribuída ao filósofo italiano
Maquiavel, sem que haja sido proferida por ele, mas como produto das teses defendidas na sua obra "O Príncipe", conquanto, na realidade, advenha da imaginação do romano Ovídio em suas "Heroides".
O socorro a esse artifício é pura falta de ética. E sem ética não há civilização. Desde a prensa de Gutenberg, as "fake news" existem. E na vida tem gente disposta a tudo. A diferença para o agora é o modo como a informação passou a circular, sem fronteiras geográficas, em tempo real.
O modelo dos "mercadores de atenção" continua um veneno letal para a democracia, ao escantear às favas valores ancestrais como a objetividade e o equilíbrio, pilares, aliás, do bom jornalismo.
Ninguém está a salvo, nem poupado. Prova disso é a tecnologia de ilusionismo digital "deep fake", alimentada por algoritmos e códigos abertos que empregam a inteligência artificial para gerar vídeos realistas, que exibem pessoas fazendo coisas que nunca fizeram de verdade ou em situações que nunca presenciaram. Um computador aprende os movimentos do rosto como sorrisos, reações etc, e os replica, enganando quem assiste ao vídeo. As "fake news" não devem sossegar.
Tendem, pelo contrário, a se sofisticalizar. Silenciar e ignorar não são alternativas. A madeira da democracia, mesmo de lei, o cupim das "fakes news" rói. E aí, Inês vai estar morta e não adiantará mais.
*Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado