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Alguns highlights do Ensino Superior

Em geral, quanto mais anos de estudo tiver a população de um país, maior será a sua riqueza, medida pelo percentual do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que se acentua exponencialmente com a qualidade da oferta

MOZART NEVES RAMOS
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MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 21/11/2022 às 6:00
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UFPE é uma das principais universidades do Norte e Nordeste e destaca-se nacionalmente. Para ingressar nela, é preciso fazer o Enem e depois se inscrever no Sisu - FOTO: DAY SANTOS/JC IMAGEM
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O Brasil sem dúvida precisa olhar com mais atenção para a Educação Básica, mas não pode se esquecer do Ensino Superior.

Em geral, quanto mais anos de estudo tiver a população de um país, maior será a sua riqueza, medida pelo percentual do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que se acentua exponencialmente com a qualidade da oferta.

Por isso, é importante que o Brasil veja como anda seu Ensino Superior. A seguir destacamos alguns pontos que traduzem o quadro atual desse nível de ensino com base nos dados do Censo de 2020:

1.77% das matrículas estão concentradas no setor particular, que, em números absolutos, correspondem a 6.724.002;

2. O percentual da população brasileira com Ensino Superior é muito baixo, de apenas 24%, com idade entre 25 a 34 anos; por outro lado, a média da OCDE é de 46%. No nosso país irmão, Portugal, é de 42%;

3. Sobram muitas vagas no Ensino Superior, possivelmente em cursos de baixo interesse social. Essencialmente, tais vagas remanescentes encontram-se no setor particular, mas, na rede federal, são 116 mil vagas, a maioria das quais em cursos presenciais;

4. A entrada no Ensino Superior se dá majoritariamente pelos cursos à distância (EaD), mas na rede federal ainda é feita por via de cursos presenciais, com 91%;

5. Um dado preocupante para a Educação Básica, considerando-se a baixa qualidade, em geral, da oferta dos cursos à distância: dentre os 10 dos maiores cursos de EaD na rede federal, 7 são no campo da formação de professores – nas diferentes licenciaturas. E a pedagogia é o curso de EaD que recebe o maior número de matrículas, tanto na rede federal como na particular;

6. A taxa de desistência no Ensino Superior é elevadíssima. De cada 100 ingressantes, 59 desistem! E isso não depende de o curso ser em rede pública ou particular. Na rede federal, a taxa de desistência é de 55%! Além disso, o resultado independe da modalidade, se presencial ou de EaD. Na presencial, a taxa de desistência é de 58%. Um aspecto interessante é que esse percentual cai muito entre alunos com financiamento público. Entre os alunos que recebem o Financiamento Estudantil (Fies), por exemplo, esse percentual de desistência é de 38%;

7. Os três cursos de licenciatura com maiores taxas de desistência são física (78%), matemática (70%) e química (69%). Exatamente nas disciplinas que mais têm carência de professores no Ensino Médio.

Esse quadro também preocupa a maior – e possivelmente a melhor – universidade brasileira, a Universidade de São Paulo (USP). Por isso, o reitor Carlos Gilberto Carlotti criou um grupo de trabalho (GT) para trazer insights para o que ele chama de USP do futuro. Tive o privilégio de ser convidado pelo magnífico reitor para coordenar esse GT. Uma coisa é certa: a universidade precisa acordar urgentemente para as mudanças que estão acontecendo no mundo do trabalho, impactado por um cenário cada vez mais disruptivo. A universidade vai precisar ouvir, como nunca, seus egressos nas reformas curriculares.

Os currículos vão precisar ser mais dinâmicos, e os professores, estar preparados para formar seus alunos para o futuro que virá. Há muita coisa acontecendo fora dos muros das universidades, que hoje já não são mais os únicos nichos produtores de conhecimento. Ou a universidade percebe isso ou perderá parte de seu prestígio social.

Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

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