Se te perguntassem o que é uma MÃE, o que você diria? Impulsionado pela cultura que fomos submetidos a nutrir ao longo da vida, certamente a resposta irá te remeter a algo relacionado à perfeição, a renúncia, sorrisos frouxos, dedicação integral e plenitude, por exemplo. Mas este tempo, se é que existiu, passou. As mães contemporâneas, as mães reais, que precisam cuidar dos afazeres domésticos, do trabalho externo, do marido, dos filhos, da saúde (física e mental), dos amigos (apenas os contáveis sobreviventes) e das inúmeras tarefas que lhes são atribuídas, passam longe da quimera da perfeição. As mudanças sociais vêm impactando fortemente a rotina dessas mulheres e transformando-as, finalmente, nas protagonistas das suas próprias vidas, longe dos arquétipos machistas.
Ser perfeita já não é mais um troféu. Há muitas gerações não buscamos esse pódio. Prêmio mesmo tem sido compartilhar as exaustivas tarefas do dia a dia, como higiene, alimentação, sono e deveres escolares com os nossos companheiros. Uma realidade ainda tímida, é bem verdade. Mas de grão em grão, ou, melhor dizendo, de mãe em mãe, a consciência está chegando de que, sim, somos um instrumento essencial para a sociedade, mas precisamos efetivamente sair da sombra da submissão e compartilhar os compromissos e as responsabilidades com os pais dos nossos filhos sem sermos hostilizadas por isso.
Quebrar o conceito de que a mãe não pode, não quer e não está 24 horas disponível, ideia que foi plantada pelo patriarcado desde que o mundo é mundo, não tem sido dever fácil. Os moldes ultrapassados e as expectativas depositadas nesse público nos levam à níveis de baixa autoestima e estresse incalculáveis. Não atingir a meta de dedicação e amor estipulada pela sociedade tem um custo psíquico altíssimo. É surreal, em pleno século 21, ainda nos fragilizarmos pelo tempo desprendido para focar na profissão, na busca – tal qual os homens – pelo pão de cada dia.
Desconstruir a ideia de que a mãe perfeita definitivamente não existe e que não somos mais educadas para servir tem sido um trabalho de formiguinha, mas já é possível ver os resultados sendo impressos na rotina de muitas famílias. É preciso normalizar e admitir que estamos suscetíveis à falhas, assim como todos os outros seres terrestres. É crucial apoiar essas mães para que seus filhos possam enxergar nelas não só o colo e o abrigo irremovíveis, mas também a força e a coragem necessárias para superar os inúmeros desafios que a vida faz o favor de nos apresentar.
Como diria Jill Churchill: “Não existe a mãe perfeita, mas há um milhão de maneiras de ser uma boa mãe”. Busquemos, cada uma, sem rótulos, sem estigmas e sem pressão, a nossa.
Virgínia Gonzaga, jornalista e mãe de três (Dom, Gael e Otto)