A véspera de ano-novo, também chamada de "Réveillon", é celebrada no último dia do ano, 31 de dezembro. A palavra faz referência ao verbo francês Réveiller, que significa despertar, acordar, reanimar. Celebra-se esse momento, desejando a todos do convívio, Próspero Ano Novo.
As pessoas cumprem vários rituais para que o desejo de ser próspero torne-se realidade. Usam roupa branca, comem sete sementes de romã e/ou lentilhas, pulam ondas do mar, soltam fogos e brindam o momento com champanhe.
Elaboram, também, listas do que pretendem conquistar no novo ciclo. É importante refletir sobre as realizações no ano, fundamentalmente, fazer um balanço dos valores e antivalores praticados.
O desejo de próspero ano novo, precisa ser respaldado pela compreensão do conceito de prosperidade. Etimologicamente, a palavra se originou do latim prosperitate/prosperare, que significa "obter aquilo que deseja".
Tende a ser associada à riqueza econômica. Entretanto, muitas pessoas têm riquezas materiais, mas não são prósperas. Esquecem que para esse "ter" de fato significar prosperidade, depende da capacidade de florescer física, psicológica e socialmente; cultivar valores; participar significativamente na sociedade e viver em ecossistemas prósperos.
A verdadeira prosperidade provém do esforço no cumprimento do dever de uma vida produtiva, pelas referências de valores e conduta sobre as quais uma pessoa realiza as suas atividades, que resultam numa sensação de bem-estar, alegria, êxito, paz interior.
Encontra-se numa palavra amável, na generosidade e gratidão. É amiga da harmonia, da dignidade, da beleza, da afeição, da humildade. A prática de valores requer um indivíduo consciente, comprometido em deixar um legado, fundamentado em princípios de dignidade que orientam o seu comportamento e decisões.
A natureza oferece belos ensinamentos. Por exemplo, a questão da semente e do fruto. Há sementes que germinam árvores que dão bons frutos e outras que germinam árvores que dão maus frutos. Assim acontece com a sementeira do bem e do mal, que foram espalhadas com o bom ou mau proceder de um indivíduo.
O bem ou o mal, a verdade ou a mentira, o amor ou o ódio, a justiça ou a injustiça darão frutos conforme suas respectivas espécies. Não se colhem maçãs dos espinheiros. A colheita de hoje resulta do plantio feito no passado, que pode ser recente ou remoto. É por essa razão que são necessários vários ciclos para plantar e colher, preparar o solo e semear novas sementes.
É a Lei de Causa e Efeito, ou de Ação e Reação, que tem por finalidade orientar o progresso intelectual e moral de uma pessoa. Os frutos amargos são colhidos das semeaduras ruins. É fundamental aprender a selecionar boas sementes. Dessa forma, cultiva-se a árvore das virtudes, consciente que não se pode colher senão aquilo que foi plantado.
Uma árvore das virtudes ( arbor virtutum ) é um diagrama usado na tradição cristã medieval para mostrar as relações entre as virtude, geralmente justapostas com uma árvore dos vícios ( arbor vitiorum ). Na raiz das árvores, as virtudes de humilitas "humildade" e o vício de superbia "orgulho" são mostrados como a origem de todas as outras virtudes e vícios, respectivamente.
A virtude conduz os indivíduos a agir corretamente, em benefício próprio e das pessoas afetadas pelas suas ações. Forma a personalidade do indivíduo, o seu caráter. A ação virtuosa é desinteressada e está relacionada com o domínio dos impulsos e desejos egoístas em prol do bem coletivo.
A consciência é o grande juiz. É o princípio das qualidades morais, das boas ações contínuas ao longo do tempo, que tornam-se hábitos e são criados através do processo de socialização, iniciando-se na família. Continua na escola, que deve ser bem escolhida para que a criança continue evoluindo no processo virtuoso. Aprender virtudes é capacitar-se para pensar, sentir e agir para o bem coletivo, o belo, a felicidade. Tornar-se virtuoso precisa de prática.
No ano novo, comprometa-se em escolher e semear boas sementes. Assim, poderá cultivar a árvore das virtudes, que brotará vigorosas flores e frutos, e lhe proporcionarão prosperidade.
Eduardo Carvalho, autor do livro Global Changemaker