OPINIÃO

Danos Colaterais... Atos terroristas afastam investidores

A fuga de capitais externos em ambientes turbulentos e instáveis do ponto de vista político é bem reconhecida na literatura econômica. Quando isso ocorre, oportunidades de investimento são desperdiçadas com danos à geração de renda, emprego e riqueza....

JORGE JATOBÁ
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JORGE JATOBÁ
Publicado em 10/01/2023 às 0:00 | Atualizado em 10/01/2023 às 17:28
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"Fatos políticos são determinantes do ambiente de negócios e vice-versa".... - FOTO: AFP

Além da condenação que todos os cidadãos brasileiros têm que fazer contra os atos antidemocráticos e violentos de domingo passado em Brasília, convém expressar a preocupação de que tais ações contaminam o ambiente econômico e os agentes produtivos. A bolsa amanheceu a segunda-feira em queda e o dólar em alta, mas com as providências tomadas e o controle da ordem pública restabelecida, fechou em leve recuperação sinalizando que o mercado já precificou os fatos lamentáveis ocorridos no Distrito Federal.

Houve danos à democracia, pois foi claramente um atentado contra o estado de direito que exige o respeito aos resultados das urnas e a solução das controvérsias pelo diálogo entre os poderes e entre estes e a sociedade, mas também se constata outros dois tipos de danos. O primeiro, ao patrimônio público, pela inconsequente e lamentável depredação das sedes dos três poderes da República, símbolos da nossa democracia, e o segundo à economia pela maneira como afeta negativamente as decisões e as expectativas dos agentes econômicos.

Costumo afirmar que economia e politica andam de mãos dadas e que fatos políticos são determinantes do ambiente de negócios e vice-versa. Investir implica em risco e todo empresário é um tomador de riscos. Este risco se multiplica quando, além dos temores considerados normais e que decorrem do ato de investir (planos de negócios mal elaborados, mudanças no comportamento dos consumidores, oscilações no ciclo econômico, crises externas, etc.), surgem ameaças à estabilidade das instituições políticas. Estas instabilidades geram incertezas especialmente sobre a manutenção das garantias jurídicas, essenciais para o respeito aos contratos, instrumentos fundamentais que asseguram direitos e deveres entre todas as partes envolvidas nos negócios.

Atos terroristas afastam investidores, nacionais e estrangeiros, porque ampliam os riscos. Os investidores estrangeiros sobretudo demandam maiores garantias para assegurar o sucesso e a rentabilidade dos seus negócios. A fuga de capitais externos em ambientes turbulentos e instáveis do ponto de vista político é bem reconhecida na literatura econômica. Quando isso ocorre, oportunidades de investimento são desperdiçadas com danos à geração de renda, emprego e riqueza. Até mesmo crises cambiais podem surgir devido à saída de divisas em busca de ambientes mais tranquilos e receptivos aos investimentos.

Por essas razões, entre outras, aplaudimos as manifestações de várias entidades empresariais e de outras organizações, nacionais e internacionais, de natureza política, econômica e financeira, contra os inéditos e repudiáveis atos ocorridos em Brasília. Defender a democracia e rejeitar ações desestabilizadoras geradas por minorias extremadas que não respeitam a alternância do poder consagrada pelas urnas, não se constitui apenas em defesa do estado de direito, um patrimônio inalienável da sociedade brasileira, mas também de um ambiente saudável e seguro para se fazer negócios A democracia e a economia de mercado são conquistas civilizatórias. As decisões de investidores e consumidores, em ambiente estável e seguro são importantes pilares para o desenvolvimento econômico e social do país.

Jorge Jatobá, doutor em Economia

 

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