OPINIÃO

Frei Caneca eternizado há 198 anos

Somente em 2007, por iniciativa do então senador Marco Maciel, o frade carmelita teve o seu nome inscrito no Livro dos Heróis do Brasil, um panteão que estava com uma lacuna do tamanho da dimensão histórica de frei Joaquim do Amor Divino Caneca, singular e plural, uma das maiores referências do heroísmo brasileiro.

ROBERTO PEREIRA
Cadastrado por
ROBERTO PEREIRA
Publicado em 13/01/2023 às 0:00 | Atualizado em 13/01/2023 às 10:46
GABRIEL FERREIRA/JC IMAGEM
Busto em homenagem ao mártir pernambucano Frei Caneca foi inaugurado em 1981 - FOTO: GABRIEL FERREIRA/JC IMAGEM

O calendário histórico-cultural de Pernambuco registra, neste 13 de janeiro, os 198 anos do arcabuzamento de frei Caneca, herói da Revolução Pernambucana e Republicana de 1817 e herói e mártir da Confederação do Equador de 1824.

Caneca era um obstinado pela causa da liberdade. Avultava nele o imenso cabedal de cultura. Gramático, professor de geometria, filósofo, poeta, jornalista, orador, pensador, enfim, uma inteligência fulgurante, ajudando a fazer de Pernambuco um dos pontos cardeais da inteligência brasileira. Em verso, Caneca chegou a dizer: "O patriota não morre/vive além da eternidade/sua glória, seu renome/são troféus da humanidade."

Somente em 2007, por iniciativa do então senador Marco Maciel, o frade carmelita teve o seu nome inscrito no Livro dos Heróis do Brasil, um panteão que estava com uma lacuna do tamanho da dimensão histórica de frei Joaquim do Amor Divino Caneca, singular e plural, uma das maiores referências do heroísmo brasileiro.

Em 1817, era um dos patriotas daquela hora decisiva, quando Pernambuco marcou, juntamente com a Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Ceará, a sua marcha pioneira para a Independência. Em 1821, veio a Convenção de Beberibe, que tornou Pernambuco autônomo onze meses antes da Independência Nacional. Caneca enfrenta todos os perigos. Havia nascido para se dar à ingente causa da liberdade, que era a nossa luta pela soberania política do País nascente, então Reino Unido a Portugal e Algarves.

Impunha-se ao Brasil, depois da sua independência, uma Constituição. Em decorrência, convocou D. Pedro I a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823, indicando ser este um passo definitivo à consolidação do liberalismo que havia inspirado a nossa Independência. Todavia, o imperador, achando lento o projeto da Constituição, dissolveu, num gesto de força e de arbítrio, a Constituinte, outorgando à Nação brasileira uma Constituição, a de 24.2.1824.

Caneca não se conforma. A Independência, comprometida e negada. O frade mostra a contradição: o herói da Independência era agora o algoz da liberdade. Daí a Confederação do Equador, que completa 199 anos em julho, merecendo celebrações à altura da nossa história, dos ideais da nossa brava gente, sendo Caneca, ele próprio, um troféu da humanidade.

Caneca, vale dizer, para reverberar os seus protestos, cria um jornal - o Typhis Pernambucano - encimado pelo verso de Camões, Os Lusíadas, canto 59: "Uma nuvem que os ares escurecem / sobre nossas cabeças aparece."

Impressionante o equilíbrio emocional de Caneca. Condenado à forca para uma morte mais humilhante, terminou espingardeado. Em verso, havia dito: "Quem passa a vida que eu passo. / Não deve a morte temer. / Com a morte não se assusta. / Quem está sempre a morrer."

Caneca viverá enquanto formos dignos do ideário de liberdade e de bravura que ele legou aos brasileiros de todos os matizes.

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco.

 

Comentários

Últimas notícias