OPINIÃO

Carnaval! Porque ninguém aguenta mais três anos de reclusão

E viva o Rei Momo! O Galo da Madrugada promete festa de arromba.

ARTHUR CARVALHO
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ARTHUR CARVALHO
Publicado em 08/02/2023 às 0:00 | Atualizado em 08/02/2023 às 7:40
REPRODUÇÃO
Projeto do Galo da Madrugada para o Carnaval deste ano - FOTO: REPRODUÇÃO

Em seu livro Metrópole à Beira-mar, Ruy Castro conta como o Rio de Janeiro, assolado pela gripe Espanhola em 1918, realizou seu maior Carnaval de todos os tempos em 1919: "Poucas semanas antes, estávamos a milímetros da morte. Agora já eram vésperas de 1919. Quem sobreviveu não perderia por nada aquele Carnaval".

E arremata: "Na Quarta-feira de Cinzas, o Rio despertou convicto de que vivera o maior Carnaval de sua história".

Vejam a coincidência: o Rio celebrou seu maior Carnaval de todos os tempos em 1919, logo após ter perdido cerca de seiscentos mil habitantes em 1918. Pernambuco prepara-se, ao que tudo indica, para gozar seu reinado de Momo este ano, depois de perder milhares de pessoas com a COVID-19, que, segundo os cientistas, é virose decorrente da Espanhola. O problema é que "assim como surgiu, a gripe foi embora. Não por alguma porção ou magia, mas porque as pessoas haviam ficado imunes" - e nem os pernambucanos nem os brasileiros estão imunes ao novo Covid. O Carnaval de Olinda já está fervendo e as previsões são de aglomeração de quatro milhões de foliões nas suas ruas, avenidas, becos e ladeiras.

Como se explica isso?

É que o brasileiro é um povo gregário. Ninguém aguenta mais a reclusão forçada de três anos seguidos em casa com famílias brigando entre si e meninos sem estudar, com máscaras no nariz e internamentos em hospitais, emergências e UTIs, com a perda de entes queridos e amigos, separações e divórcios, dor e tristeza. O pessoal quer desabafar, reunir-se, extravasar dançando, fazendo o passo, cantando, bebendo, namorando, beijando e abraçando. Fantasiando-se de rei e rainha, de marinheiro, pierrô e colombina.

Outras coincidências são que a gripe Espanhola foi durante a Grande Guerra, e a Covid-19 atravessa a invasão da Ucrânia. A Primeira Guerra acabou porque Áustria, Alemanha, Rússia, França, Bélgica e Itália cansaram de lutar sem sucesso, matando-se mutuamente, e resolveram terminar o morticínio inútil, fazendo as pazes. Agora, torcemos para Rússia e Ucrânia pararem com o estúpido conflito que, além das atrocidades e mortes de inocentes, afeta a economia mundial.

Na Bahia, o Carnaval já começou. Ou melhor, nunca parou nos 365 dias. São Paulo redescobriu o Carnaval, e a população vai para a rua. No Rio, teremos o maior espetáculo do Planeta, com as escolas de samba. E viva o Rei Momo! O Galo da Madrugada promete festa de arromba.

Arthur Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas

 

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