Opinião

Tubarões

Quando cheguei a Recife, em 1952, ainda se comentava o acidente acontecido em 1947, como Frei Serafim Oliveira de Melo

ARTHUR CARVALHO
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Publicado em 22/03/2023 às 0:00
Leandro de Santana/PMJG
Dizem os entendidos que um canal de relativa profundidade, existente entre o litoral de Ipojuca e a Igrejinha de Piedade, serve de estrada para os tubarões - FOTO: Leandro de Santana/PMJG

Pelo início dos anos 50, estava havendo ataque de tubarão no Rio de Janeiro, nas águas da Praia Vermelha, especialmente tubarão tigre (o mais perigoso e forte). Não se tinha notícia de tubarão nas praias de Copacabana, Leblon, Ipanema e Urca. Diziam os especialistas que a mais “protegida” das praias era a da Urca, por ser mais difícil de o tubarão atacar dada a sua localização, o que me deixou tranquilo, porque eu morava na Rua Cândido Graffée na Urca.

Quando cheguei a Recife, em 1952, ainda se comentava o acidente acontecido em 1947, como Frei Serafim Oliveira de Melo, de 27 anos, irmão leigo do convento do Carmo, em Piedade, defronte da casa de veraneio das irmãs Lucinha e Inaldinha Dubeaux, em que o frei foi dilacerado pela mordida de um tubarão - e morreu. Dessa data até hoje, cerca de 77 acidentes fatais ou não, com tubarões, já aconteceram no litoral do Recife (Boa Viagem e Pina), em Jaboatão dos Guararapes (Piedade), Olinda e Paulista.

Coincidência ou não, os episódios vêm acontecendo com mais frequência, depois da construção do Porto de Ipojuca. Dizem os entendidos que um canal de relativa profundidade, existente entre o litoral de Ipojuca e a Igrejinha de Piedade, serve de estrada para os tubarões nesse percurso, o que facilita ataques aos banhistas. Mas, e os ataques de Boa Viagem? Como resolver o problema, que, além de graves e até fatais causados aos irresponsáveis, afugentam os turistas com repercussão mundial?

É bom registrar a ignorância e a teimosia dos acidentados. Tem gente que não lê jornal, não ouve rádio e não escuta os noticiários da televisão. Conheci uma senhora de 50 anos, que já tinha trabalhado no comércio mais de 30 e que assistia todos os programas de TV e quando começavam os noticiários, levantava-se do sofá, trancava-se no quarto e dormia. Perguntada, certa vez se sabia o que era o Supremo Tribunal Federal, respondeu: “Não é a casa que Bolsonaro mora?”

Entrevistado, como era voltar a mergulhar em Boa Viagem, já tendo perdido uma perna no mesmo lugar com mordida de tubarão, o jovem surfista filosofou: “Fazer o quê?”. Com essa população e a lancha de pesquisa da Universidade Federal Rural de Pernambuco, emborcada e o casco enferrujando, aquela mesma que estudou profundamente o problema, está difícil. É bom lembrar que mordida de tubarão transmite milhões de bactérias.

Arthur Carvalho, Associação da Imprensa de Pernambuco - AIP

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