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Zeus não é brasileiro!

Os mitos que chegaram até nós têm significado, do contrário seriam esquecidos

ERMANO MELO
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ERMANO MELO
Publicado em 22/03/2023 às 0:00
Marcello Casal JrAgência Brasil
O Brasil é previsível e segue errando ao tentar, de tempos em tempos, o que já se sabe um fracasso - FOTO: Marcello Casal JrAgência Brasil

Sísifo era o mais astuto dos mortais; um mestre da malícia e das artimanhas, quase um brasileiro típico. Enfureceu Zeus quando enganou Tânato (a morte) e salvou uma mortal por benefícios próprios. Zeus pediu a Tânato a alma do malandro; Sísifo mais uma vez se saiu bem, pois o aprisionou com uma corrente como se colar fosse.

Por um tempo não houve mortes pois Tânato estava preso, o que enfureceu o irmão de Zeus, Hades, senhor dos mortos, e Ares, o deus da guerra; ambos ficaram sem matéria prima para seus deveres. Hades solta Tânato que finalmente mata Sísifo.

Entre os mortos, o esperto engana Hades, volta aos vivos e morre de velhice. Zeus que, diferente do Deus cristão, não é de perdoar, sentencia-o a algo pior que a morte. Teria que rolar uma enorme pedra montanha acima e, quando estivesse no topo, a pedra rolaria de volta forçando-o a reiniciar essa missão pela eternidade.

Os mitos que chegaram até nós têm significado, do contrário seriam esquecidos. Esse explica o esforço dos brasileiros em desenvolver um país; a diferença é que não chegamos nem perto do cume e a pedra já nos escapa.

O pior castigo de Sísifo foi a consciência da inutilidade pois estava ciente do fracasso. Assim também somos pois o nosso destino se repete há décadas.

Para chegar ao topo basta compararmos um mesmo povo com caminhos opostos, como por exemplo as Alemanhas Ocidental e Oriental e as duas Coreias; ou o mesmo país em momentos distintos: a China de Mao e a de Deng Xiaoping, que saiu da miséria extrema para a riqueza sem renunciar à tirania; também o Chile ditatorial de Pinochet com o atual democrático, que caiu no conto do bolivarianismo, assim como a Venezuela. Essas ditaduras de sinais trocados provam que crescimento econômico não é sinônimo da valorosa democracia, infelizmente. A explicação é outra.

O que as diferencia é a escolha entre a economia de mercado e a economia planificada, bem esmiuçada por Deirdre Mccloskey em Deixe-me em Paz e eu te deixo Rico. A ideia de que algumas pessoas ungidas planejando a prosperidade é melhor que o conjunto dos esforços individuais em um ambiente com liberdade econômica é o maior erro do século XX e do século XXI, ao qual os sul-americanos não conseguem escapar.

As narrativas sempre encantam e a realidade é esquecida, tal qual Eneias tentando derrotar Aquiles, o mais forte guerreiro que piedosamente lhe lembrou: Não te ponhas à minha frente... até os tolos percebem fatos.

O Brasil é previsível e segue errando ao tentar, de tempos em tempos, o que já se sabe um fracasso. Compare os planos Collor/Sarney x Plano Real e, para ser justo, os poucos anos de Pallocci x os muitos de Mantega. Agora temos mais um embate: Paulo Guedes x Haddad; Salve um printdos indicadores deixados e faça sua aposta.

Zeus não se meteu inicialmente na Guerra de Tróia e assim também proibiu os outros deuses. Hera e Poseidon, esposa e irmão de Zeus, não se conformaram. Hera o seduziu e o deixou em sono prolongado, o que permitiu a Poseidon ajudar os gregos um tempo.


Para nós só há uma chance: Hera nos apoiar e colocá-lo novamente em sono profundo ou que ele nos tire a consciência da nossa sina, pois assim teremos forças para empurrar a rocha montanha acima novamente quando ela pousar, pois a descida já começou. Zeus, tende piedade de nós.

Ermano Melo, oftalmologista

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