A crônica sempre foi considerada um subgênero literário, embora Machado de Assis tenha escrito várias delas. Segundo Gustavo Corção, a crônica brasileira é uma maneira leve de tratar as coisas graves, e uma maneira grave de tratar as coisas leves.
O próprio “Velho da Montanha” ensinava que quem quiser escrever uma crônica deve começar “por uma trivialidade”, e dizer: “Que calor!” “Que desenfreado calor!” E acrescenta, com seu costumeiro humor: “Diz–se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca ... la glace estrompue; está começada a crônica.”
Quem elevou a nossa crônica aos píncaros foi Rubem Braga, dando-lhe status de poema em prosa, ao ponto de Manuel Bandeira considerá-lo um grande “Poeta Bissexto”.
Quando o Bardo Recifense foi convidado pelo Jornal do Brasil a escrever crônica em suas folhas, tremeu na base: “Vou enfrentar o desafio, pedindo a Deus que me livre de cair na imitação de Rubem Braga.”
O sucesso do escritor de Cachoeiro de Itapemirim foi tão importante, que logo chegaram de Minas outros cronistas: “Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende, somando-se aos lendários pernambucanos Nelson Rodrigues e Antônio Maria.
Mas não vamos esquecer de Luís Fernando Veríssimo, Ivan Lessa, Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, Renato Carneiro Campos e Selênio Homem de Siqueira, entre outros.
A crônica é um gênero literário democrático e interessante porque, publicada em jornal, pode e deve atingir o chamado leitor comum, que, julgando-se amigo íntimo do cronista, acha-se no direito de telefonar para ele: “Você está mentindo!” ou “Você errou” ou “Exagerou ontem!”.
A propósito, vejam que coincidência. No dia 08 deste mês, eu disse aqui que, em 1951, nós, alunos do internato São José, dos Irmãos Maristas, da Rua Conde de Bomfim, vimos, depois do jantar, objetos com luzes misteriosas voando em alta velocidade, em forma de discos voadores. E que, no dia seguinte, a Revista O Cruzeiro, estampou uma manchete: “Discos Voadores na Tijuca!”.
Pois bem, falaram que eu estava fantasiando. Hoje, 22 de março de 2023, leio na pág. 514 da biografia de Carmem Miranda, por Ruy Castro: “Em julho, o repórter João Martins, de O Cruzeiro (famoso pelos discos voadores que ‘vira’ na Barra da Tijuca, no Rio, algum tempo antes)” etc.
Arthur Carvalho, Academia Pernambucana de Letras Jurídicas.
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