Comemoramos no próximo dia 23 de abril o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor. A efeméride foi criada pela UNESCO durante a sua 28ª Conferência Geral, ocorrida entre os meses de outubro e novembro de 1995 em Paris, no intuito de promover o prazer da leitura, a publicação de livros e a proteção dos direitos autorais. A escolha da data se deveu à coincidência de que neste mesmo dia, no ano de 1616, faleceram os escritores Miguel de Cervantes, William Shakespeare e Inca Garcilaso de la Vega.
Passados 28 anos desde a instituição dessa agenda comemorativa internacional seu primeiro desafio permanece, ou melhor, se complexifica: como estimular o prazer de ler no mundo atual marcado pela rapidez das redes/mídias sociais? No caso específico brasileiro a missão se torna ainda mais árdua, pois carregamos o peso de uma enorme dívida social com a leitura. Para termos uma ideia da nossa realidade nessa seara, de acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2019) do Instituto Pró-Livro, 44% da população não lê, 30% nunca comprou um livro e a média de obras lidas por pessoa ao ano no país é de 4,96 - num rápido comparativo sul-americano, na Argentina, 70% lê livros, enquanto no Chile o total é de 51%, com uma média de 5,4 livros por ano (dados do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe-Cerlalc, organismo ligado à citada UNESCO).
Difícil pensar em melhorias desses números sem um esforço conjunto da sociedade civil e do poder público. Em relação a este último, no nível federal nossas esperanças ressurgem com a criação da Secretaria de Formação, Livro e Leitura, compondo a nova estrutura do reerguido Ministério da Cultura, o que aponta um maior prestígio e investimentos para as políticas do setor. Aqui em Pernambuco tivemos em 2020 a regulamentação de um primeiro Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (PELLLB) através de lei aprovada pela ALEPE (Lei nº 16.991). Ano passado, já como consequência deste documento, o governo destinou seus primeiros recursos financeiros para a realização de ações nele previstas. Os ventos, portanto, são prósperos.
Investimentos/recursos para o estímulo da leitura é fazer o jogo do "ganha-ganha", pois sabemos: ler traz uma maior apropriação da língua, acesso ao conhecimento, capacita os indivíduos para reflexões próprias, enfim, pré-requisitos de via de acesso ao exercício da plena cidadania. Aprofundando o que acabo de escrever, encerro esse artigo tomando emprestado as palavras de Michèle Petit, pesquisadora do prestigiado Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNCS) da França e experiente estudiosa das práticas de leitura, que na sua obra Os jovens e a leitura nos ensina: "os livros roubam um tempo do mundo, mas eles podem devolvê-lo, transformado e engrandecido pelo leitor. E ainda sugerir que podemos tomar parte ativa no nosso destino. Nesse sentido, compreendemos porque a leitura pode ser uma máquina de guerra contra o totalitarismo e, mais ainda, contra os sistemas rígidos de compreensão do mundo, contra os conservadorismos identitários, contra todos aqueles que querem nos imobilizar".
Os livros (e a prática da leitura) são as nossas verdadeiras armas possíveis. Celebremos o 23 de abril.
Roberto Azoubel, gestor cultural.
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