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Transformação pela educação

A transmissão não apenas do conhecimento, mas especialmente de valores e princípios é uma missão do Estado, coadjuvado pelas famílias

RONNIE PREUSS DUARTE
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RONNIE PREUSS DUARTE
Publicado em 21/04/2023 às 16:49
Gabriel Jabur/Agência Brasil
Pagamos, enquanto sociedade, um altíssimo preço pela incapacidade de assegurar uma formação adequada à juventude - FOTO: Gabriel Jabur/Agência Brasil

Pagamos, enquanto sociedade, um altíssimo preço pela incapacidade de assegurar uma formação adequada à juventude. A transmissão não apenas do conhecimento, mas especialmente de valores e princípios é uma missão do Estado, coadjuvado pelas famílias. Como resultado, a ignorância e a frouxidão moral transitam pelas gerações.

Pela ineficiência na assimilação de valores, somos confrontados, hoje, com uma assustadora complacência moral por parte expressiva da população brasileira. Perdemos a capacidade indignação face às mais abjetas práticas. A corrupção é tida como algo corriqueiro e, em vários círculos, aceitável. A reiterada utilização de cargos públicos em proveito pessoal deixou há muito de provocar reações de protesto. Parentes e amigos de mandatários, nomeados e concursados são beneficiários do escambo entre os poderes. Há um total descaso sobre o que vem a ser o conflito de interesses. Vê-se, em tal contexto, que os malfeitores conseguiram domesticar a opinião pública, que não assusta mais ninguém.

No que se refere à qualificação técnica, o problema tem idêntica magnitude. Anualmente, o IMD World Competitiveness Center realiza um estudo visando analisar a aptidão do ambiente econômico e social para gerar inovação em um grupo de 63 nações. No ranking da edição de 2022, ficamos em 59º lugar, atrás de países como Botsuana, Cazaquistão, Peru e Colômbia. O Chile, por exemplo, ficou na 45ª posição. A qualidade da educação é uma das nossas grandes fragilidades.

É ressabido que um contingente expressivo de jovens simplesmente não recebe formação minimamente adequada, sobretudo nas escolas públicas. Como resultado, o analfabetismo campeia. O Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) aponta que assustadores 38% dos universitários do Brasil são considerados analfabetos funcionais, ou seja, são incapazes de interpretar ou agregar informações, apesar da conclusão da escolaridade.

Considerando que os índices de reprovação são praticamente inexistentes, findarão por concluir a formação em absoluta inaptidão para ingressar no mercado de trabalho. O desempenho do Ministério da Educação nos sucessivos governos é uma piada (de mau gosto). Estamos desapetrechados para avançar em um mundo que exige qualificação e afinidade com as tecnologias.

A raiz do dantesco cenário repousa na educação básica. O retrato das precaríssimas condições estruturais das escolas públicas municipais foi trazido pelo ex-vereador recifense André Regis em interessantíssimo projeto denominado “Raio-X das Escolas”, em iniciativa que deveria ser reproduzida pelas oposições país afora, em todos os segmentos do serviço público.

A amostragem revela que garotos muitas vezes famintos são metidos em salas escuras, quentes, desestruturadas, para assistir a aulas ministradas por docentes sub-remunerados, a quem faltam atualização e meios adequados para compartilhar os conteúdos.

Revisitando as memórias desde a menor infância, lembro de ter conhecido amigos que queriam ser jogadores de futebol, policiais, soldados e pilotos. Alguns queriam as profissões tradicionais: médicos, advogados, engenheiros, empresários, dentre outras.

E uma porção deles almejava passar em qualquer concurso público que pagasse bem. E nas carreiras de estado ganhava-se até quinze vezes mais do que na docência escolar. O certo é que rigorosamente ninguém queria ser professor da educação básica. Às escolas foi relegado um contingente residual de profissionais.

A superação do hercúleo desafio passa, necessariamente, por uma grande campanha de valorização da docência no ensino básico, capaz de atrair uma massa de grandes talentos. Para além dos incrementos estruturais e salariais, é urgente a adoção de múltiplas estratégias de comunicação, destacando a insuperável importância da nobilíssima missão do professor.

Ronnie Preuss Duarte, advogado e ex-presidente da OAB-PÉ

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