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A inteligência aplicada à política

No Brasil, a aplicação do marketing à política, englobando o marketing político e o eleitoral, é um exemplo de que os comportamentos "desviantes" acabam prevalecendo no imaginário das pessoas, encobrindo um conjunto rico de atividades e conceitos que dizem muito sobre as escolhas dos indivíduos, valores políticos e sobre a cultura de uma sociedade, em um dado contexto

PRISCILA LAPA
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PRISCILA LAPA
Publicado em 23/04/2023 às 19:42
Antonio Augusto/Ascom/TSE
Passado o período eleitoral, muitos atores políticos parecem esvaziados, sem ter o que apresentar à população - FOTO: Antonio Augusto/Ascom/TSE

Alguns temas e conteúdos que perpassam o universo da política são repletos de mitos que lhes roubam o sentido originário e impedem uma visão mais precisa dos seus limites e possibilidades enquanto campo explicativo de fenômenos sociais.

No Brasil, a aplicação do marketing à política, englobando o marketing político e o eleitoral, é um exemplo de que os comportamentos “desviantes” acabam prevalecendo no imaginário das pessoas, encobrindo um conjunto rico de atividades e conceitos que dizem muito sobre as escolhas dos indivíduos, valores políticos e sobre a cultura de uma sociedade, em um dado contexto.

O estudioso Michel Bongrand, ícone do marketing político mundial, o define como “(...) conjunto de técnicas que têm como objetivo favorecer a adequação de um candidato ao seu eleitorado potencial, torná-lo conhecido do maior número de eleitores e de cada um deles, criar a diferença em relação aos concorrentes - e aos adversários -, e com um mínimo de meios, otimizar o número de sufrágios que é necessário ganhar durante a campanha”.

Não se trata de uma tarefa trivial atuar como estrategista político ou “marqueteiro”, como é popularmente conhecido aquele profissional que se dedica a fazer atores políticos se tornarem “populares” e, preferencialmente, vencedores em uma disputa eleitoral.

4É necessária a conjugação de três áreas: estratégia, marketing e comunicação. A essa engrenagem, o estrategista Paulo Moura, autor do livro “Inteligência Política e estratégias nas campanhas eleitorais”, que será lançado no próximo dia 8 de maio, pela Editora Vozes, denomina “Inteligência Política”. Para o autor, a inteligência deve conectar forma e conteúdo, assim como deve reger as atividades relacionadas à elaboração de estratégias; ao planejamento de marketing e à conceituação e execução das peças de comunicação de uma campanha.

Inteligência pode, em suma, ser definida como um modo hábil de processar mudanças, compreender os fatores do ambiente e procurar por novas oportunidades. A inteligência atua, sobretudo, na formulação de cenários, com a velocidade necessária para dar as respostas efetivas e no tempo certo, defende Paulo Moura. Esse seria, possivelmente, o maior desafio dos estrategistas de campanhas na era atual.

Muitos acham que o desafio maior é conectar o on-line com o off-line; é vencer as “bolhas” nas quais as pessoas estão imersas e, a partir delas, geram suas narrativas e visões de mundo.

Para outros, o maior obstáculo é o tempo em que as coisas se processam e que, na dinâmica de uma disputa, exigem capacidade ampliada de processamento e tomada de decisão. Desconfio que a maior falta, no entanto, é mesmo de conteúdo, de uma agenda eleitoral alicerçada nas reais necessidades do eleitorado e que seja plausível, exequível, aplicável.

A prova é que, passado o período eleitoral, muitos atores políticos parecem esvaziados, sem ter o que apresentar à população. Não temos esperança de que o marketing nos salve desse mal, mas ao menos aponte caminhos e nos devolva a capacidade de conectar eleitores e seus representantes, na melhor das acepções de democracia.

Priscila Lapa, cientista política

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