OPINIÃO

Redes antissociais bárbaras

Na pandemia, as crianças ficaram sem escola por causa de um vírus.... Agora, podem ficar fora das escolas novamente, dessa vez por causa da violência humana, estimulada nas redes bárbaras antissociais.

SÉRGIO GONDIM
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SÉRGIO GONDIM
Publicado em 28/04/2023 às 0:00 | Atualizado em 28/04/2023 às 9:20
JAÍLTON JÚNIOR/JC IMAGEM
Barbárie das "redes antissociais" tem afetado o dia dia das escolas - FOTO: JAÍLTON JÚNIOR/JC IMAGEM

O que mais impressiona, não é saber da existência de uma pessoa capaz de divulgar fotos do corpo lesionado da cantora morta, mas sim que existem milhões dispostas a interromper suas atividades, suspender a leitura de um bom livro de poesias, a conversa animada com o vizinho, para acessar e repassar as tais fotografias nas redes. Chamam de curtidas, mas seria melhor definir como anulação da capacidade humana de refletir, massificação da insensibilidade e da inconsequência.

Juristas se contorcem entre "censura nunca mais" e a prática de crimes que estimulam ataques com machados às crianças nas escolas, uso de armas de fogo apontadas para alvos específicos na política, jogos que conduzem adolescentes ao suicídio, agendamento para expressar ódio mortal contra o torcedor do time contrário e a violência contra os de cor ou escolhas diferentes.

Encontrar uma ou outra cabeça perturbada entre tantas, seria compreensível, mas não o apoio de seguidores, milhões deles, com sangue nos olhos.

Sempre existiu e vai existir alguém capaz de cometer crimes contra a humanidade. Sempre existirão pessoas incapazes de identificar mentiras, mas por que tantos se mostram dispostos a disseminá-las, não importando se atingem a honra de terceiros, se influenciam a escolha de um candidato, se comprometem sem provas a confiança nas instituições ou se expõem a saúde da população?

Uma importante rede de televisão americana, acusada de divulgar notícias "maliciosas", tidas como "absurdas" nas conversas íntimas entre seus executivos, mas colocadas no ar, acaba de fechar acordo com a fabricante de urnas eletrônicas- Dominion Voting Systems - para evitar o julgamento por difamação durante a campanha de 2020. Concordou em pagar R$3.9 bilhões e talvez pensem duas vezes antes de divulgar mentiras convenientes em rede nacional.

Chega-se ao extremo de agredir a saúde pública. No passado, uma piada de mau gosto comprometeu a cobertura vacinal em algumas regiões mais longínquas. Correu a notícia boca a boca que o governo queria economizar as despesas com aposentados, matando-os. Para isso utilizaria a campanha de vacinação para maiores de 60 anos. O resultado da brincadeira foi um baixo índice de cobertura vacinal. Outras piadas surgiram depois, a respeito de tamanha ignorância. Agora foi pior e ecoou, como esperado, entre os menos instruídos e mais vulneráveis, mas surpreendendo, muito também entre os que se acham no topo da pirâmide social e econômica. Analisando o fenômeno, discute-se o papel das redes, o efeito de manada e o comprometimento da capacidade de raciocínio crítico.

Na pandemia, as crianças ficaram sem escola por causa de um vírus. Durante o isolamento, paradoxalmente, as pessoas se comunicaram como nunca, mas aparentemente ficaram piores do que antes, concentrando em grupos a maldade de cada um.

Agora, as crianças podem ficar fora das escolas novamente, dessa vez por causa da violência humana, estimulada nas redes bárbaras antissociais.

Sérgio Gondim, médico

 

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