Por certo, não fui o único que ouviu do receio de alguma criança em comparecer à escola ante a expectativa de atentado.
Tendo filhos em idade escolar, escutei dentro e fora de casa o receio de um "copycat" ou "revival" de algum massacre perpetrado em data análoga, que serviria de mote para mais uma tragédia em recinto colegial.
O conselho ouvido era de que seria necessário, doravante, um reforço nos detectores de metais e nas câmeras de monitoramento.
Acho que, tecnologias à parte, o que necessitamos é de um reforço de cidadania.
Se por um lado é voz corrente que os atentados em educandários - ao menos dezesseis, nos últimos 20 anos - se deram sob inspiração de casos perpetrados em escolas norte-americanas, irrogando - ao menos parcela de - responsabilidade aos veículos jornalísticos em razão da notoriedade gerada a partir da difusão de tais incidentes, aqui e lá, lado outro não se percebe um clamor, com mesma paixão, pelo reforço dos conceitos que emolduram a cidadania, a exemplo da empatia e fraternidade. Certamente não é de se culpar as escolas por essa vicissitude.
Alô, alô famílias.
Críticas ao comércio de armas, mitigação dos controles etários de programas televisivos, do amplo acesso a conteúdos impróprios na rede mundial, retratam parte da problemática. Tangenciam, entretanto, a essência da problemática, na medida em que uma massa de jovens segue exposta aos influxos de uma sociedade frenética sem - não raro - o anteparo de uma formação humanística mais densa, que valorize não apenas a ascensão social e seus estereótipos de sucesso e beleza, mas, sobremaneira, a empatia e respeito à condição humana do próximo (por mais que esse seja de naturalidade, colorido, crença ou opção sexual diversas).
Fernando Pessoa já dizia que devemos fazer "do medo, uma escada; do sonho, uma ponte; da procura, um encontro". Numa população miscigenada como a destes trópicos, um olhar com as lentes da compreensão e o filtro do respeito, focado na originalidade de cada um, certamente será detector de bons sentimentos e filmará jovens mais felizes.
Erik Limongi Sial, advogado, sócio fundador do Limongi Advocacia