OPINIÃO

Governança orientada por design

Uma nação exemplar em cultura de design thinking é Singapura. O país tem área territorial equivale a 1/3 da área do menor estado do Brasil, com uma população estimada em 6 milhões de habitantes.

EDUARDO CARVALHO
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EDUARDO CARVALHO
Publicado em 05/05/2023 às 0:00 | Atualizado em 05/05/2023 às 10:18
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Singapura: um dos países mais competitivos do mundo e exemplar na cultura design thinking - FOTO: PIXABAY

O design abrange o espectro de desenvolvimento de produtos, como as empresas prestam serviços aos seus clientes, molda decisões e fornece soluções para problemas reais, integrado à sua estratégia. Esse conjunto de ações é o que define a organização liderada por design. Portanto, design não se refere apenas à estética, elementos funcionais, ou artes visuais.

Após a morte de Leonardo Da Vinci, cientistas e historiadores se debruçaram sobre o seu trabalho e descobriram protótipos, desenhos conceituais e planos que estavam séculos à frente de seu tempo. Com projetos de máquinas voadoras, cidades, pontes hidráulicas, armas automáticas, instrumentos musicais, mapas, entre muitos outros. Era muito curioso. Observava e estudava o mundo ao seu redor, sempre questionando o porquê. Ele anotava suas ideias, esboços, pensamentos, projetos, criando milhares de páginas denominadas de "os cadernos de Leonardo", que parecem ser uma previsão do futuro do mundo. Da Vinci é reconhecido como um dos principais design thinkers da história.

Mais de cinco séculos após a sua morte, as empresas constataram que o design thinking é crítico para a competitividade corporativa e de uma nação. É a abordagem de pensar como um designer e resolver problemas criativamente. Fundamentalmente centrada no ser humano para criar soluções inovadoras e relevantes. Requer mentalidade de crescimento, conforme conceituado por Carol Dweck, autora do livro Growth and Fixed Mindsets. Assim sendo, as pessoas enfrentam desafios, acreditam que as próprias qualidades podem ser desenvolvidas e criam paixão por aprendizado e inovação. Um líder com mindset de crescimento cria uma cultura colaborativa e de desenvolvimento.

Na liderança por design, tudo começa com os líderes de uma organização nutrindo a cultura de design, que compreende identificar as necessidades reais das pessoas para as quais as soluções estão sendo criadas. O processo questiona se o que está sendo criado é: 1) Desejável 2) Aplicável 3) Viável financeira e tecnicamente. Equipes multidisciplinares necessitam ser envolvidas, trabalhando de forma colaborativa. Precisa-se de pessoas especialistas, porém com capacidade de conversação com outras disciplinas. A abordagem é transdisciplinar.

Uma nação exemplar em cultura de design thinking é Singapura. O país tem área territorial equivale a 1/3 da área do menor estado do Brasil, com uma população estimada em 6 milhões de habitantes. Entretanto, é o país mais competitivo do mundo, o quinto mais inovador, o segundo que mais facilita a implantação de negócios. É também um grande hub de transporte internacional, tendo o segundo porto mais movimentado do mundo. A educação básica do país é uma das cinco melhores do mundo.

O sucesso do país pode ser creditado à "governança por design-GD", que consegue transformar uma crise global em oportunidades de negócios. A nação criou essa cultura, consciente que o processo ajuda a aumentar a capacidade de uma organização de absorver, reconhecer, coletar e aplicar novas informações para fins comerciais. Esse modelo de governança é coordenado pela agência nacional, Design Singapore Council-DSC.

O papel da agência é ajudar organizações e empresas a usar o design como estratégia para o crescimento dos negócios e para uma excelente prestação de serviços públicos. Para esse objetivo, prioriza o desenvolvimento de talentos com formação em design, tornando-os referência internacional, assim como as empresas de design. Com essa visão, a DSC executa uma variedade de iniciativas lideradas por design e oferece suporte prático para equipar as empresas com os recursos, habilidades e conhecimentos necessários para suas operações diárias.

Um dos recursos importantes da agência é a Escola X, uma sala de aula sem paredes, onde pessoas com experiências diversas se reúnem para resolver desafios comunitários ou de negócios através do design thinking. O ambiente tem facilitadores de design e conta também com patrocinadores de desafios. Qualquer cidadão pode frequentar a escola. Precisa ser curioso, mente aberta e disposto a colaborar como agente transformador.

O caso de Singapura merece ser estudado pelos governos e pelas lideranças das organizações de outras nações.

Eduardo Carvalho, autor do livro Agente transformador 

 

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