A polarização política faz muito mal ao Brasil. Nos últimos os tempos, se tornou ainda pior e mais cruel. Um movimento que tornou o país mais raso e muito aquém do que poderia um dia sonhar em alcançar. Desde que a polarização se tornou regra, não existe mais ponderação, moderação e prudência no debate público. Muito pelo contrário, qualquer discussão de política pública se tornou contaminada e refém deste tipo de argumento.
Se de um lado, há pessoas que ainda baseiam suas ideias em um ultrapassado debate sobre luta de classes, de outro, há ingênuos que acreditam em um levante socialista. Ambos estão errados e sabem disso. Na verdade, em ambos os lados vemos vigaristas vendendo ilusões para um povo que passou a ver a política como um clássico no futebol. Não importa a verdade, mas simplesmente a versão de seu grupo.
As redes sociais potencializaram demais esta realidade. Os algoritmos funcionam como um filtro perigoso que levam as pessoas a consumirem conteúdo voltado diretamente para suas crenças. Isto gera um falso sentimento de pertencimento a uma causa, ao mesmo tempo que cerceia o acesso a qualquer conteúdo crítico ao que pensamos. As redes se tornaram centro de formação de exércitos de pensamento único.
O resultado ficou muito claro nas últimas eleições. Um país dividido ao meio com eleitores questionando a realidade em ambos os lados, refém das máquinas de propaganda construídas em torno de suas crenças. Uma realidade parecida com aquela vivida pelos Estados Unidos nas duas últimas eleições e que deve se repetir no próximo ano. Europa e todas as democracias seguem o mesmo caminho.
Para além do problema político e eleitoral, temos também um problema social. Jovens e diversos outros grupos têm sido brutalmente afetados pelo impacto que as redes têm causado em suas vidas. Discursos de ódio se proliferam na internet com extrema rapidez e deixam vítimas que vão além do mundo virtual, com marcas irreparáveis em muitas vidas e servindo de instrumento para massacres que acabam com outras.
Nosso país e o mundo vem trilhando um caminho muito perigoso. Precisamos estar atentos a isso. Como resultado, temos talvez o pior parlamento de nossa história, um dos mais fracos e despreparados, eleitos pela polarização e o discurso radical, e por isso mesmo, refém destas práticas. O resultado é que teremos legislações que impactam a vida nacional de várias gerações sendo votadas e discutidas por estas mesmas pessoas.
Estamos diante de uma situação desafiadora. O radicalismo surgido nas redes sociais tem aberto espaço e passagem para pessoas despreparadas e lideranças perigosas nestes tempos estranhos. Como disse o celebrado escritor Umberto Eco, "as redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares e não causavam nenhum mal para a coletividade. Hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis".
Vivemos em um período de invasão dos imbecis e não podemos esperar nada de bom quando somos liderados por eles. Resta ao mundo refletir sobre este movimento e entender se haverá uma autofagia deste sistema ou se realmente a humanidade desceu um degrau em direção ao inferno. Vale nossa reflexão.
Márcio Coimbra, professor, cientista político e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília