OPINIÃO

A eleição para prefeito tem lógica?

Faço uma alerta: o exclusivo olhar para a aprovação quantitativa do gestor esconde os sentimentos dos votantes. Por exemplo: a popularidade do prefeito é de 55%, mas parcela dos votantes desejar algo mais.

ADRIANO OLIVEIRA
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ADRIANO OLIVEIRA
Publicado em 14/05/2023 às 0:00 | Atualizado em 14/05/2023 às 8:39
ANTONIO AUGUSTO/ASCOM/TSE
"São os eleitores independentes que, geralmente, decidem a eleição" - FOTO: ANTONIO AUGUSTO/ASCOM/TSE

Aparentemente, a variável que melhor prever e explica o desempenho dos candidatos na eleição municipal é a aprovação do prefeito. A lógica é bem simples: prefeitos bem avaliados tendem a ser reeleitos ou fazerem o sucessor. O contrário também é verdadeiro: prefeitos mal avaliados tendem a não ser reeleitos e não fazem o sucessor. Todavia, a sociologia de Bauman serve para explicar as supostas mudanças na eleição: a opinião pública é líquida.

São diversas as cidades do Nordeste em que a eleição é fracamente previsível: de um lado, o amarelo; do outro, o vermelho. São os eleitores cativos. Se o prefeito for amarelo e mal avaliado, aumentam as chances do candidato vermelho vencer a eleição Existem também os votantes independentes. Estes não fazem parte nem do amarelo e nem do vermelho.

A opinião pública líquida é visível entre os eleitores independentes: se o prefeito tiver sabedoria e agir para melhorar a gestão, os votantes independentes, que outrora votavam na oposição, optam pela reeleição do alcaide. A opinião dos eleitores cativos é bem rígida, ossificada. São necessários robustos incentivos para que mudem a sua escolha. São os eleitores independentes que, geralmente, decidem a eleição.

Um ponto fundamental: a depender da posição, não importa para os eleitores cativos a qualidade da gestão do prefeito. Eles são apaixonados. Exemplo: o prefeito "vermelho" é mal avaliado, mas os vermelhos seguem votando nele. Não enxergam mazelas na gestão. Receiam perder benefícios privados vindo do poder público. Como bem disse um eleitor na pesquisa qualitativa: "quem está dentro (da prefeitura) não quer sair e quem está fora, quer entrar". Os votantes independentes, repito, são volúveis. Estão à procura de soluções para as suas demandas.

O tempo pode mudar a lógica do voto na cidade. Prefeitos bem-sucedidos, eleitos, independentes de grupos, quebram a lógica histórica da polarização vermelho versus amarelo. Por consequência, um novo grupo pode surgir. Quando isto acontece, os eleitores independentes ganham espaço no eleitorado.

A identificação ideológica do eleitor para com o candidato também existe, em especial, nas capitais. De um lado, o candidato da esquerda, do outro, o da direita. Recife é exemplo disto. A esquerda, com Jarbas Vasconcelos, João Paulo, João da Costa, Geraldo Júlio e João Campos; e a direita, com Joaquim Francisco e Roberto Magalhães. Na capital pernambucana, a esquerda com muitos votos está entre PT e PSB. A aliança de ambos fortalece a candidatura de João Campos. A direita civilizada não tem representantes claros, neste momento. E a direita radical, bolsonarista, pode ter Gilson Machado como representante. A esquerda e a direita civilizada são competitivas. A direita bolsonarista não.

Na eleição da capital pernambucana, a centro-esquerda ou a centro-direita também tem seu espaço, pois o petismo e o lulismo têm adeptos, mas também são rejeitados. Assim ocorre com o PSB. Quem ocupará o espaço do centro, à esquerda ou à direita na eleição do Recife? Qualifico os eleitores do centro como independentes. O candidato do centro, a depender da conjuntura, tem condições de ser competitivo.

Lembro da premissa básica: gestões bem avaliados tendem a ser reeleitas. Nesta conjuntura, as disputas entre cores (amarelo versus vermelho) e ideológica sofrem enfraquecimento. Parcela do eleitor na eleição municipal (maioria?) quer saber se tem remédio e médicos nos postos, se a rua está calçada, se quando chove alaga, se os buracos são tampados de maneira célere, se tem merenda de qualidade nas escolas, se existem locais para lazer, se o lixo está sendo recolhido, se as estradas para os distritos rurais estão em bom estado, se obras de saneamento estão ocorrendo, se na UPA tem poucas filas.

Quando o prefeito contempla a demanda do eleitor ou parte dela, a sua popularidade aumenta. Por consequência, volto a frisar, ele amplia as chances de reeleição. Porém, a complexidade na eleição municipal também está presente. Eleitores têm sentimentos. É comum pesquisas qualitativas identificarem que o prefeito tem de razoável para boa avaliação. Contudo, o sentimento de dúvida para com a continuidade do prefeito existe, já que os votantes querem mais e creem que o gestor pode fazer mais. Quando esta realidade é encontrada, os candidatos da oposição têm chances de derrotar o prefeito bem avaliado.

Faço uma alerta: o exclusivo olhar para a aprovação quantitativa do gestor esconde os sentimentos dos votantes. Por exemplo: a popularidade do prefeito é de 55%, mas parcela dos votantes desejar algo mais. Neste caso, a pesquisa qualitativa encontrou o sentimento de dúvida quanto à reeleição do alcaide em parte dos votantes. Portanto, não só de números deve viver o prefeito candidato à reeleição e os competidores da oposição.

Adriano Oliveira, doutor em Ciência Política. Professor da Fundador da Cenário Inteligência

 

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