Aposta

Manipulação, futebol e corrupção

Importante registrar que os clubes estão ilesos diante do capítulo das culpabilidades. Diga-se o mesmo das ligas de futebol. Por igual, das competições

ROBERTO PEREIRA
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ROBERTO PEREIRA
Publicado em 14/05/2023 às 23:56 | Atualizado em 14/05/2023 às 23:56
Rafael Vieira/FPF
Atletas, Brasil afora, pedem punição exemplar para os culpados, porque os inocentes não querem pagar pelos pecadores - FOTO: Rafael Vieira/FPF

As apostas esportivas no Brasil, desde dezembro de 2018, mediante decreto assinado pelo então presidente Michel Temer, foram legalizadas. A Medida Provisória 13.756 fixou normas para a prática das apostas de cota fixa baseada em resultados de temáticas esportivas.

Segundo ditames jurídicos, as empresas que operam no Brasil sejam sediadas em outros países e não tenham pontos de venda físicos. Foram instadas a funcionar apenas através de site, hospedadas em domínios de redes internacionais, seguindo a legislação do país de origem.

Como se dava a malversação dos espertalhões do futebol? Jogadores comendo “bola” consoante os acertos prévios que combinavam as estatísticas de um ou vários jogos, incluindo o escore final, um número determinado de faltas, pênaltis, os cartões amarelos ou vermelhos, escanteios e assim por diante.

O jogador aliciado chegava a receber valores no intervalo entre R$ 50 mil e R$ 150 mil, podendo ter que atuar contra o próprio time, inclusive para levá-lo à derrota.

Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida, Nelson Rodrigues nunca acertou tanto na sua assertiva. E, mercê dos resultados, previamente acordados, os apostadores recebiam lucros altos em diversos sites de apostas.

Deve-se ao Ministério Público de Goiás a abertura da Operação Penalidade Máxima, uma frente aberta às buscas, no final de 2022, quando o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro.

Romário recebeu uma entrada de R$ 10 mil, e só teria o complemento após a partida, com o pênalti cometido. À época, o presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, que também é policial militar, desconfiou, investigou o caso, entregando os indícios de provas ao MP-GO.

A Polícia Federal está procedendo inquérito, arrolando suspeitos que serão ouvidos no processo. Dentre atletas, de clubes diferentes, já se vão oito. Os clubes que possuem, nos seus elencos, jogadores sob suspeição, estão obrigados a manter esses atletas fora dos jogos até que a verdade venha a lume.

A corrupção tem sido um vírus endógeno entre brasileiros e brasileiras. Uma cultura que enlameia o sangue da nossa nacionalidade. Uma vergonha que deslustra a nossa conduta e o caráter de toda a gente verde e amarela.

Dentre os aborrecimentos gerados, um deles contraria a boa-fé dos crédulos, causando prejuízos financeiros e emocionais. Um outro mal, nesse sistema de corrupção, é a quebra da credibilidade.

A iminência da descrença entre os apostadores, descrença entre os torcedores. Tudo caindo e se desmoronando como castelo de areia. Falta pouco para a desconfiança ser o fio condutor dos aficionados dos esportes e das competições, dos campeonatos, das disputas entre agremiações.

Importante registrar que os clubes estão ilesos diante do capítulo das culpabilidades. Diga-se o mesmo das ligas de futebol. Por igual, das competições. Além de isentos das culpas, estão pousando, com justa razão, de vítimas.

A possível inserção de juízes, a exemplo, em 2015, da malfadada Máfia do Apito, serve para estragar a fruta já depauperada pelas mazelas comportamentais. Se um juiz desabonar o apito que sopra nas partidas de futebol, esse sopro será o do ventilador quando espalha, por toda a parte, o excremento indesejado. Tomara que não!

Se o conhecimento do Brasil passa pelo futebol, como nos ensina o escritor José Lins do Rego, então estamos, fora e dentro das quatro linhas, no reino da corrupção, como se esse fosse um mal a nos perseguir como sintoma de má índole.

Atletas, Brasil afora, pedem punição exemplar para os culpados, porque os inocentes não querem pagar pelos pecadores. Desejam permanecer incólumes sob o agasalho da ética e da moral. No futebol, o jogador cria fama e se deita na grama.

Como vai se encerrar essa fase encardida do futebol brasileiro? Respondo com Ananias, ex-jogador do Santa Cruz, apelidado de galã das Gerais, quando disse: prognóstico somente no final da partida.
Apostemos todas as fichas num final feliz!

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco.

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