A palavra poder (do latim potere) significa ser capaz de realizar ou fazer algo. Implica necessariamente a existência de duas ou mais pessoas, ou seja, o poder é sempre relacional. Desde os primórdios da humanidade as relações entre indivíduos/grupos se deram visando poder, seja econômico, social, militar, político, entre outros. Uma relação de poder pode se formar no momento em que alguém deseja algo que depende de outra pessoa para realizar. Esse desejo estabelece uma relação de dependência de indivíduos ou grupos em relação a outros. Quanto maior a dependência de A em relação a B, maior o poder de B em relação a A.
Uma nação democrática como o Brasil, a sua governança é liderada por três poderes: Legislativo (elabora leis que regulem a conduta dos cidadãos, organizações, país), Judiciário (administra a Justiça na sociedade, através do cumprimento de leis), Executivo (gere o governo, em acordo com as leis, políticas, orçamento, aprovados pelo Poder Legislativo. Também celebra acordos internacionais e é responsável pela manutenção da ordem pública e defesa nacional). Para a boa democracia, é fundamental que sejam independentes, com visão do bem coletivo da nação. Presidentes, ministros, governadores, prefeitos, secretários, diretores de organizações públicas, parlamentares, membros do judiciário, entre outros, representam esses poderes. Precisam ter competências, habilidades e valores necessários para o exercício de poder. Perfil semelhante deve ter indivíduos que lideram organizações privadas com fins ou sem fins de lucro.
Entretanto, quando o poder é exercido por alguém sem o perfil, decisões podem ser tomadas que não representem relação harmônica entre as partes do todo, nem respeitem o bem coletivo. Nesse contexto, a definição de prioridades pode ser prejudicada, e o "líder" desrespeitado pelos seus liderados, cidadãos, que, inclusive, lhe confiaram votos, e para quem devem prestar contas. Se exerce poder coercitivo, ou se autodestrói, ou continuando no poder, pode causar recessão no país, estado ou cidade. Numa organização pode corroê-la até a sua falência. Lamentavelmente, a história registra inúmeros casos.
Na política e nas organizações ocorrem mudança de poder em várias circunstâncias, de forma pacífica ou por conflito. É um fenômeno dinâmico, e quem exerce deve ter consciência de sua fragilidade, não podendo se deslumbrar com a função, nem permitir o "poder subir à cabeça". Esse ditado sugere que, quando uma pessoa exerce poder, pode tornar-se arrogante, distanciar-se das pessoas com quem convivia, cercando-se de bajuladores, na ilusão que o poder será perpétuo, permitindo-se fazer o que quiser sem temer consequências. Atitude que pode levar a comportamentos abusivos, prevalecendo-se do cargo e visando interesses pessoais, ao ponto de praticar assédio moral. Uma ação que pode ser exercida por um indivíduo ou por um conluio - conspiração, complô, combinação realizada entre um grupo com objetivos de prejudicar indivíduos ou outro grupo.
No contexto da economia, conluio ocorre na política quando parlamentares se unem por um objetivo que prejudica o bem coletivo dos cidadãos de uma cidade, estado, país. Na governança empresarial acontece quando conselheiros e/ou diretores, se unem para tomar decisões que atendam interesses pessoais, ignorando o bem da organização. Nas duas situações são comportamentos que devem ser repudiados pela sociedade.
Poder é exercido por pessoas em qualquer atividade e função política ou organizacional. Em qualquer caso, é importante praticar o mantra que poder requer autoridade, mas que não é sinônimo de "autoritarismo". E, essencialmente, ser consciente que o poder político ou organizacional é transitório. O poder vitalício é das pessoas que se tornam exemplo por terem valores, talentos cultivados continuamente, sempre demonstrando gratidão por aqueles que contribuem com elas.
Eduardo Carvalho, Harvard University Fellow