OPINIÃO

Conversas de 1/2 minuto (28)

Lisboa. Mais conversas, em livro que estou escrevendo (título da coluna). Como sexta passada foi o dia de Santo Ivo, padroeiro dos advogados, hoje só com eles. Com nós, melhor dizendo.

JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHOjp@jpc.com.br
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JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHOjp@jpc.com.br
Publicado em 26/05/2023 às 0:00 | Atualizado em 26/05/2023 às 10:10
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Fernando Lyra, ex-ministro da Justiça: "juristas bons são os de Caruaru" - FOTO: Chico Porto/JC Imagem

ADMALDO MATOS, advogado. Com caso para decidir, na Secretaria da Fazenda de Pernambuco, chamou o procurador João Pinheiro Lins e pediu parecer. Ele

O que deseja?

Só diga o que achar certo.

E João, balançando os dedos no rosto de Admaldo, sentenciou

Está pensando o quê? Eu não estou aqui para obedecer nenhuma lei, meu papel é só dar fundamento jurídico às arbitrariedades da administração.

ANTÓNIO VALDEMAR, escritor. Lembrou casos reais ocorridos nos tribunais de Lisboa:

- Advogado: Qual foi a primeira coisa que disse o seu marido quando acordou, aquela manhã?

- Testemunha: Ele disse Onde estou?, Berta.

- Advogado: E por que é que se aborreceu?

- Testemunha: O meu nome é Célia.

* * *

- Advogado: Aqui no tribunal, para cada pergunta que eu lhe fizer, a sua resposta deve ser oral, está bem?

- Testemunha: Sim.

- Advogado: Que escola frequenta?

- Testemunha: Oral.

* * *

- Advogado: Doutor, antes de fazer a autópsia, o senhor verificou o pulso da vítima?

- Testemunha: Não.

- Advogado: O senhor verificou a pressão arterial?

- Testemunha: Não.

- Advogado: O senhor verificou a respiração?

- Testemunha: Não.

- Advogado: Então é possível que a vítima estivesse viva quando a autópsia começou?

- Testemunha: Não.

- Advogado: Como é que o senhor pode ter a certeza?

- Testemunha: Porque o cérebro do paciente estava num jarro sobre a mesa.

- Advogado: Mas ele ainda poderia estar vivo?

- Testemunha: Sim, é possível que estivesse vivo a tirar o curso de Direito em algum lugar!!!

FERNANDO LYRA, ministro da Justiça. Lyra me procura, feliz,

A Câmara de Vereadores de Caruaru (Pernambuco) decidiu dar meu nome a um novo conjunto habitacional que vai ser inaugurado. Por favor, redija o parecer da Comissão de Justiça para fundamentar a votação.

Má notícia, amigo. É que você vai precisar ir para o céu, antes. A Lei 6.454/77 só permite nome em "logradouros e monumentos públicos" depois que o cidadão morre. Infelizmente. Ou não, que você ainda está vivo.

Foi embora irritado. Um mês depois, mostrou lei criando o "Conjunto Habitacional Fernando Soares Lyra". E parecer da Câmara firmado por um jurista/vereador. Dizia mais ou menos assim (resumo):

 Há homens mortais e aqueles eternos. Para os primeiros, o tempo conta. Já para os outros, não. Que, por tudo que fizeram, jamais serão esquecidos. A lei dos nomes vale só para mortais. E, nunca, para eternos ainda em vida. Como Fernando Lyra. Por isso, nada impede que se dê o nome do ministro a esse Conjunto Habitacional.

E Fernando completou

Juristas bons são os de Caruaru.

GENTIL MENDONÇA FILHO, advogado trabalhista. Fomos colegas de classe no Colégio Nóbrega. E próximos, ao longo de nossas vidas. Começo de fevereiro, vésperas do Carnaval, estava num quarto de hospital e pediu para falar comigo. Foi a última conversa que tivemos. Vesti avental de papel, máscara no rosto, essas coisas de proteção para os pacientes e entrei. Ele, sem meias palavras,

- É danado, amigo Zé Paulo.

- Pare com isso, Gentilzinho, amanhã você já está bom.

- Levei os exames que o doutor pediu, perguntei o que é que eu tinha, e sabe o que ele respondeu?

- Não...

- Doutor Gentil, o senhor está apodrecendo.

Pouco depois acabou, no dia 11, quinta feira. Na véspera, foi quarta-feira de cinzas. Agora, as cinzas eram ele. Vida injusta. "E para ti, ó Morte, vá a nossa alma e a nossa crença, a nossa esperança e a nossa saudação!", palavras de Fernando Pessoa (Bernardo Soares, no Livro Desassossego). Quando refiz o diálogo, escrevi "Você está morrendo". Sua viúva, Paula, a quem pedi autorização para contar essa história, corrigiu

- Foi assim não, eu estava presente.

Riscou morrendo e escreveu, em seu lugar, a palavra correta, apodrecendo. Viva Gentil.

GIBRALDO MOURA COELHO, advogado penalista. Na Ditadura, quando Nilo Coelho foi nomeado governador de Pernambuco, a gente ficava dizendo ao velho comunista

- Agora você vai se apresentar, dando ênfase no sobrenome, como Gibraldo Coelho (assim era conhecido). Só para ter vantagens, nas delegacias, por pensarem que é parente do governador.

- Parem com isso, por favor, todos sabem que sempre fui oposição.

 - Nada, Gibraldo, você quer mesmo é faturar.

E foi tanta brincadeira que tomou uma decisão drástica. Trocou de nome. Passando a ser, para todos os fins, Gibraldo Moura. Na placa do escritório, nos papéis, no catálogo telefônico, nos cartões de visita. Só não contava é que o governador que substituiu Nilo Coelho fosse José... Moura. Como ele, agora, Gibraldo Moura. E não perdi a oportunidade

- Bicho inteligente, virou Moura só para se aproveitar do sobrenome.

- Aqui para nós, amigo, Ele não foi justo.

- Ele quem?, Gibraldo.

- Deus, Zé Paulo. Deus.

(MARCELO NAVARRO) RIBEIRO DANTAS, ministro do STJ. Em 14/07/2022, mandou mensagem

- Viva os 107 anos do glorioso América Futebol Clube, de Natal.

Após o que completou

- Outro evento, de menor importância, são os 233 anos da Revolução Francesa.

* * *

Mandou foto de placa em barzinho que frequenta, na Praia de Pirangi (RGN),

Pão na chapa:

Com manteiga, 2,50.

Com margarina, 2,00.

Sem manteiga, 1,50.

Sem margarina, 1,00.

* * *

Ao pensar nas dores da alma, escreveu

- Amargura?

Amar cura.

Solidariedade?

Só lhe dar a idade.

Morri?

Amar, ri.

Sentimento?

Sem ti minto.

Jamais?

Já, mas...

ROBERTO ROSAS, advogado. Lembrou que perguntaram ao Ministro Orozimbo Nonato, do Supremo,

- O senhor foi juiz?

- Fui.

- E quando largou o apito?

José Paulo Cavalcanti Filho

jp@jpc.com.br

 

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