MEIO AMBIENTE

O impacto de uma possível saída de Marina Silva no cenário internacional

O presidente Lula manifestou intenção de o Brasil sediar a COP-30 e não pode se dar ao luxo de perder seu ativo mais importante, a ministra Marina Silva.

Fabíola Góis
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Fabíola Góis
Publicado em 26/05/2023 às 0:00 | Atualizado em 26/05/2023 às 10:06
Bruno Spada Agência Câmara de Notícias
Marina Silva: "eu perco a cabeça, mas não perco o juízo" - FOTO: Bruno Spada Agência Câmara de Notícias

Não, o presidente Lula não pode deixar a ministra Marina Silva sair do governo! A frase é direta e simples assim. Sua saída teria consequências catastróficas para a imagem do Brasil no cenário internacional depois de quatro anos de um governo ineficiente e infeliz, o de Jair Bolsonaro. E não só em relação ao meio ambiente, mas à estratégia do Itamaraty em desenvolver uma política externa para tentar retornar o país à posição de liderança global.

Diferentemente do início do primeiro governo Lula, quando chefiou a pasta de 2003 a 2008 e era uma só uma voz importante no Brasil, Marina Silva se transformou em um ícone mundial quando o assunto é agenda socioambiental, como o desenvolvimento de baixas emissões de carbono e investimento em energia limpa. Esses temas não estavam tão em moda no início dos anos 2000.

No contexto global, Marina se insere entre os líderes que mais se engajam nos temas, como o Enviado Especial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry, e a Secretária do Departamento do Interior do Governo Joe Biden, Deb Haaland, pasta que cuida da conservação do meio ambiente nos Estados Unidos. Haaland faz história ao se tornar a primeira indígena americana a servir como secretária de gabinete da presidência dos Estados Unidos e é amiga de Marina Silva.

A Amazônia é uma palavra quase sagrada entre os líderes que se preocupam em combater os efeitos das mudanças climáticas. Os Estados Unidos - e a Europa - sabem o quando está custando os efeitos da Revolução Industrial deles, que provocam desequilíbrio de ecossistemas, aquecimento global e descongelamento de geleiras. Cidades inteiras são dizimadas pela seca, enquanto países inteiros correm o risco de desaparecer por causa do aumento do nível do mar, inclusive vizinhos nossos do Caribe.

Quando o presidente Lula anunciou Marina Silva como ministra do Meio Ambiente, os olhos desses líderes internacionais brilharam. E as mãos se voluntariaram para a ajudar o combate ao desmatamento da Floresta Amazônica. Tanto é verdade que a Alemanha e a Noruega anunciaram o restabelecimento Fundo Amazônia, criado em 2008, durante o segundo mandato de Lula, com a finalidade de captar recursos para investimentos em prevenção, monitoramento, conservação, combate ao desmatamento e promoção de iniciativas sustentáveis na Amazônia Legal. E mais, países como os Estados Unidos e o Reino Unido se juntaram à iniciativa e anunciaram aportes de $500 milhões cada um. O fundo, gerido pelo BNDES, acumula R$ 5,4 bilhões, com R$ 1,8 bilhão já contratado.

O que aconteceria se Marina Silva deixasse o governo? Simplesmente esses recursos poderiam ser suspensos novamente, como ocorreu em 2019, e não chegaria àqueles mais interessados em protegê-los, como o governo federal e local, as organizações governamentais sérias e, principalmente, os povos indígenas, verdadeiros protetores da floresta e ameaçados de extinção da sua maneira de viver.

E não só o Fundo Amazônia. O Brasil também perderia a chance de assinar com a União Europeia um acordo de livre comércio, no âmbito do Mercosul, porque a agenda ambiental está sendo levada a sério pela Inglaterra, França e Alemanha. Rei Charles, recém-empossado no trono inglês, é um defensor da preservação do meio ambiente, o presidente francês, Emmanuel Macron, lidera pacote de medidas para transição ecológica, e o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, estabeleceu a meta de proibir a venda de carros à combustão a partir de 2030. O Brasil não pode dar a desculpa de que os produtores protecionistas nesses países querem para melar o acordo.

Agora imagine se Marina Silva deixasse o governo por pressão para liberar licenciamento para de exploração de petróleo pela Petrobrás na foz do Rio Amazonas? Seria catapultar a imagem de que o Brasil é um país que não respeita o meio ambiente, independentemente de quem o lidera. Um parecer técnico do Ibama desaconselhou a liberação da obra no local, e a licença foi negada no dia 17 de maio. A região é de alta relevância biológica e há temor com o risco de acidentes que podem espalhar petróleo pela região. Segundo técnicos do Ibama, as correntes marítimas são muito diferentes das observadas em outros locais da costa brasileira e poderiam espalhar o óleo a grandes distâncias num curto espaço de tempo. Ponto final.

Marina Silva não é apegada a cargos. Em uma entrevista no passado, ela chegou a dizer: "eu perco a cabeça, mas não perco o juízo". Sábia ministra. Ela sabe que o Brasil só voltar a liderar a agenda ambiental pelo exemplo.

O presidente Lula manifestou intenção de o Brasil sediar a COP-30 e não pode se dar ao luxo de perder seu ativo mais importante, a ministra Marina Silva.

 

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