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Educação: notícias de lá e de cá

No Brasil, a baixa atratividade pelo magistério está vinculada aos salários, à ausência de um plano de carreira atrelado a uma sólida formação continuada e às precárias condições de ensino verificadas em muitas escolas públicas

MOZART NEVES RAMOS
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MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 12/06/2023 às 1:00
ASCOM EDUCAÇÃO PE
A rede estadual de ensino de Pernambuco tem 1.059 escolas estaduais, cerca de 534 mil alunos e 36 mil professores, entre efetivos e temporários - FOTO: ASCOM EDUCAÇÃO PE

Antes de sair de Recife para umas boas e merecidas férias de sete dias em terras portuguesas, tomei conhecimento de um relatório produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação (MEC) sobre as elevadas taxas de desistência de estudantes nos cursos de formação de professores no Brasil, as chamadas licenciaturas. Os números são bastante preocupantes, em particular aqueles vinculados aos cursos das ciências exatas e da natureza – Física, Matemática e Química. Em Física, sete de cada dez alunos desistem!

Esses números, que não são de agora, persistem há décadas, e vai continuar assim, exceto quando o país entender que sem jovens professores bem formados não vamos sair das últimas posições nos rankings internacionais, como foi o caso do exame internacional de leitura Progress in International Reading Literacy Study (Pirs), do qual tratei no artigo anterior neste JC.

Mas, ao chegar aqui em Lisboa, a 100 metros do hotel em que fiquei hospedado, verifiquei que algo similar acontecia em Portugal. O sindicato de professores denunciava em vários cartazes a grave situação dos cursos de licenciatura em Portugal, em particular no que se referia à baixa taxa de conclusão dos alunos e, como reflexo, a enorme preocupação pela reposição de professores na rede pública de ensino. Por coincidência, como no Brasil, a situação mais grave se concentra também nos cursos de Química, Física e Matemática. Em março deste ano, mais de 20 mil alunos portugueses estavam sem ter aulas por falta de professores.

Entretanto, esse quadro altamente preocupante dos cursos de licenciatura não é privilégio apenas do Brasil e de Portugal, mas algo que preocupa vários outros países. No Brasil, a baixa atratividade pelo magistério está vinculada aos salários, à ausência de um plano de carreira atrelado a uma sólida formação continuada e às precárias condições de ensino verificadas em muitas escolas públicas. Diferentemente do Brasil, Portugal vem fazendo mudanças importantes nos seus currículos escolares e na formação docente, que, apesar desse quadro desafiador fazem do país um dos que mais avançaram no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

Entre os vários brasileiros com quem conversei nessa breve estada em Lisboa, um comentário foi unânime: “Aqui as escolas públicas são de boa qualidade; nossos filhos aprendem, e inclusive mais duas línguas além do português!”. Infelizmente, estamos longe de poder constatar o mesmo em nosso país. Aqui não conseguimos chegar a um mínimo denominador comum sobre questões curriculares, formação de professores e avaliação do ensino. Muda o governo, muda tudo, e ainda agora estamos vivenciando isso.

Mas, de Lisboa, também li, pelo nosso JC online, a boa notícia do lançamento do programa Juntos pela Educação, do governo de Pernambuco, com recursos da ordem de 5,5 bilhões de reais para os próximos anos – um programa apoiado no regime de colaboração com os municípios e a respeito de cujo conteúdo vou agora procurar me inteirar. Espero abordá-lo no meu próximo artigo neste JC.

Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

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