Quando a saudade invade o coração da gente, não tem conversa nem cachaça que dê jeito. Pode ter meio mundo de dinheiro e chora, nem um amigo do peito segura o chororô. Oh Deus, perdoe este pobre coitado que de joelhos rezou um bocado. Será que o Sr. se zangou? Com a pandemia, tinha jeito não, o forrozeiro não sabia o que fazer. Lembrava da fogueira e da canjica, cadê o São João? Meu Deus, por favor devolva o São João, fazia oração. Tava com saudade de tu meu desejo, de passear no teu céu. É tão difícil ficar sem você, mas quando estou com voce estou nos braços da paz.
Tendo o coração vazio, vivo assim a dar psiu, sabiá vem cá também, tu que tanto já voou, alivia minha dor. Tem pena deu.
Se assossega coração, esse amor renascerá. Vai-se um dia, vem o outro. Ver a terra rachada amolecendo, a terra antes pobre, enriquecendo. Pedi para o sol se esconder um tiquinho, prá chover, mas chover de mansinho.
Doeu, doeu, agora não dói mais. Não que a vida esteja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar. Não vou cair em golpe. Deus me proteja da maldade de gente "boa", só porque tem uma butique, fica pensado em dar trambique. Chora sanfona sentida, em meu peito gemendo. Teu gemido disfarça em minha alma essa dor. Se eu fosse um peixe, nadava contra as águas desse desafio.
Chorei, chorei, agora não choro mais.
Voltou o forró da Fazenda Esperança. O forró de Zé Nivaldo e Neíse quase me acaba. Respeito aos comandos do meu pai. Era poeira subindo, vixe como fiquei feliz, aquilo é que é forró. Um sanfoneiro no canto fazendo um floreio pra gente dançar e o ronco do fole sem parar. Vem morena pros meus braços, no resfolego da sanfona inté o sol raiar. Nesse bole-bole, nesse vai e vem, o coração chega lateja no xenhenhém. Arrepia o corpo da gente, não quero sair mais não, vou até quebrar a barra e pegar o sol com a mão.
O meu cabelo já começa prateando, mas a sanfona ainda não desafinou, canta alto feito cigarra vadia. Eu tô maduro, passei da flor da idade, mas ainda tenho alguma mocidade. O forró faz o veio ficar moço, não se compara com nenhum remédio em toda medicina. Vem dançar mais eu, prá ver se um dia descanso feliz, guardando as recordações das terras onde passei, andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei.
Todo tempo quanto houver, prá mim é pouco.
E o forró continuou.
p.s. letra e música dos poetas do forró
Sérgio Gondim, médico