A governança tradicional se concentra nas práticas e políticas internas de uma organização pública ou privada com fins ou sem fins de lucro. Em geral tem como referência o local onde atua. No mundo globalmente competitivo, se faz necessário ampliar a perspectiva além das fronteiras.
A governança com visão global reconhece esse cenário e tem visão clara de ser uma organização de referência internacional. É consciente de que as suas decisões e ações podem ter impacto global. Também é comprometida em identificar e implementar as melhores práticas do mundo em suas atividades. Isso envolve um processo de benchmarking global.
O benchmarking inicia com planejamento e definição dos objetivos almejados e indicadores de desempenho para avaliar se foram alcançados. Em seguida, a seleção de atividades, os processos, os produtos e serviços. São escolhidas as organizações, cidades ou países onde será realizado, considerando as melhores referências globais. Todas as informações são analisadas com o objetivo de desenvolver um plano de ação para implementação. Mas nada é estático. Está sempre evoluindo na medida que novas ideias, tecnologias e abordagens surgem. A governança precisa ser visionária, curiosa, criativa e inovadora. Aprendizagem tem que ser permanente. Inclusive aprendendo com os sucessos e fracassos de projetos não só delas, mas também de organizações em diferentes partes do mundo.
O profissional que se dedica a fazer benchmarking aprende sempre. Seja em viagens, visitas e com network bem construído. É diferenciado. Por onde passa traz na bagagem ideias e contatos que podem contribuir para melhorar as atividades que exerce.
A busca por melhoria contínua requer network e parcerias que agreguem valores diferenciados ao processo. Muitas vezes acordos internacionais para intercâmbio de informações e conhecimento são necessários. Principalmente quando se aborda desafios globais comuns: mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, segurança cibernética, terrorismo, corrupção, pandemias. Também, em projetos onde organizações com conhecimento específico sobre determinado assunto, mas precisa complementar com o de outra para assegurar o sucesso do projeto.
Para ser referência internacional uma organização precisa ter múltiplos parceiros inovadores. Não se limita a ser franqueada, restringir-se às práticas do franqueador, sem liberdade de inovar e ganhar escala global com o seu know-how. Os países desenvolvidos, com destaque para os Estados Unidos, têm essa consciência e as suas startups já nascem com visão global. Praticam benchmarking, inclusive, nas unidades mundo afora da sua holding. Cria um ciclo virtuoso de inovação.
Benchmarking global é importante tanto para organizações privadas quanto para públicas. Há muitas oportunidades. Embaixadas dos países e organizações internacionais promovem programas para líderes governamentais e de organizações sem fins de lucro. Indústrias de vários segmentos convidam profissionais para conhecer as suas unidades, e também participar de cursos e congressos em outros países. Pesquisadores, professores doutores e pós-doutores têm facilidade de aprofundar conhecimento através de parcerias entre universidades e/ou com incentivos de órgãos governamentais. Organizações de toda natureza jurídica podem ter interesse em facilitar a participação dos seus profissionais em congressos, cursos e visitas em outros países com objetivos de inovação.
Essas ações podem viabilizar a implantação local das melhores práticas globais de: manufatura, educação básica e superior, transporte urbano, coleta de lixo, gestão ambiental, urbanização, saúde pública, democracia, governança pública, sistemas de comunicação e informação, combate à corrupção, sistema tributário, incentivo ao empreendedorismo, entre muitas outras.
Cabe a governança adequar as práticas às suas necessidades, considerando o contexto cultural, regulatório, e operacional em que está inserida. Implantar as melhorias identificadas, monitorar o desempenho para garantir que as mudanças estejam gerando os resultados positivos, e continuar praticando o benchmarking global.
Enfim, é essencial que organizações e governos se conscientizem sobre a importância de exercer governança com visão global e de longo prazo, inserindo-se no grupo das lideranças comprometidas em encontrar as melhores soluções para os desafios que o mundo impõe.
Eduardo Carvalho, autor do livro Global Changemaker