Não é possível dizer que tudo de bom está contido no conceito de “bondade”, assim como tudo de ruim está contemplado na “maldade” humana. A realidade é bem mais complexa do que se apresenta. Pessoas com boas intenções, mesmo sem querer podem nos prejudicar, pois às vezes seu comportamento benevolente nos impede de aprender e de crescer. Por outro lado, pessoas de má índole, em algumas situações, podem até nos ajudar a crescer, desde que sejamos capazes de usar suas ações negativas como oportunidade de aprendizado e de crescimento. Para um pai ou uma mãe que educa o filho dizendo sempre sim, para suas vontades, pode até ser mais fácil e até parecer generoso para a criança em desenvolvimento. Para alguns genitores, dizer um não de vez em quando, para sua prole, pode gerar uma frustração na criança e, portanto, evita causar esse tipo de desconforto, deixando que os filhos cresçam sem ter aprendido a enfrentar os obstáculos naturais da vida. Mas como qualquer adulto, sabemos que viver nos exige que devemos ter essa capacidade em demonstrar a força para reagir a esse trauma ou dificuldade (resiliência), de forma a suportar as inevitáveis frustrações da vida e, assim, ter mais chances de ser um adulto equilibrado e bem sucedido. Assim como um piloto ou um marinheiro precisa ser capaz de lidar com as condições adversas do tempo ou do mar, as pessoas precisam ser capazes de enfrentar desafios e de superar obstáculos para crescer e evoluir. A adversidade pode ser uma oportunidade para o desenvolvimento da capacidade de reagir as dificuldades ou traumas e da autoconfiança. Quando as coisas parecem fáceis e sem obstáculos, quase sempre é improvável que os filhos se desenvolvam e saiam da sua zona de conforto. Por outro lado, enfrentar desafios pode levá-los a aprender novas habilidades e a encontrar soluções criativas para os problemas. Sabemos que educar exige estabelecer limites claros e capacidade de dizer não quando necessário, pois isso protege os filhos e os ensina a tomar decisões responsáveis. Ao mesmo tempo, é importante que os pais expliquem suas decisões e permitam que seus filhos tenham a oportunidade de expressar suas opiniões e preocupações. A comunicação clara, por meio de um diálogo aberto, é de fundamental importância para construir uma relação familiar saudável. Portanto, não podemos pensar em tirar dos filhos a capacidade de serem independentes e autônomos, pois se procedermos desta forma, estamos os prejudicando, mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis. Por tudo isso, é importante desenvolvermos uma perspectiva saudável e equilibrada sobre o mundo e as pessoas, pois se a vida não vem a ser um “mar de rosas”, os desafios e frustrações que nos confrontam devem ser comparados a um “limão” que necessita ser transformado em uma saborosa “limonada”, ou seja, em oportunidades de crescimento e de aprendizado.
Cláudio Sá Leitão, conselheiro pelo IBGC e CEO da Sá Leitão Auditores e Consultores.